FOTOS IMAGENS-Governo de SP oferece lanche, caixas de papelão e auxílio-moradia para famílias deixarem área na Cracolândia


Governo de SP oferece lanche, caixas de papelão e auxílio-moradia para famílias deixarem área na Cracolândia

Santiago/G1)

O governo estadual de São Paulo, através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), está oferecendo lanches e cinco caixas de papelão aos moradores da Quadra 36 da Cracolândia para que deixem os imóveis que ocupam na manhã deste domingo (15). No local será construída a nova unidade do Hospital Pérola Byignton.

Na sexta-feira (13), a Justiça determinou a reintegração de posse do terreno até as 5 horas de segunda-feira (16) a pedido do governo para a construção do novo Hospital Pérola Byington, que funciona na Avenida Brigadeiro Luís Antônio e ocupa um prédio alugado.

Uma carta distribuída pela CDHU informa que quem aceitar a proposta de deixar o local espontaneamente também receberá auxílio-moradia no valor de R$ 400 mensalmente. No entanto, o comunicado gerou mal-estar entre os ocupantes da área que relatam terem se sentirem humilhados com a oferta do lanche e das caixas de papelão.

Nascida e criada nos Campos Elíseos, no Centro de São Paulo, região que se transformou na Cracolândia devido a sua degradação e ocupação por dependentes químicos, a comerciante Renata Soares, de 35 anos, disse que se sentiu humilhada. Mãe de 9 filhos, ela mora com 7 em um único cômodo e vende marmitas pela região para sobreviver.

“A comunicação que eles fizeram foi desconfortável para a maioria que se sentiu ofendida. Eles diziam que a gente teria que sair até o domingo, que iam trazer um caminhão, umas caixas, um pão com suco, então, várias famílias se sentiram humilhadas”, afirmou Renata. Ela mora há 6 anos em uma ocupação na Alameda Glete, onde vive cerca de 50 pessoas no total.

“Eles estão comprando as pessoas com cinco caixas de papelão e um lanche? Isso é subestimar a inteligência do ser humano. Eles deviam dar uma moradia digna e não chegar e levar as pessoas para qualquer lugar oferecendo auxílio-aluguel”, reclama a comerciante Auzugaria Brito, 43 anos.

Comerciante Auzugaria Brito sentiu sua inteligência subestimada com a oferta do Governo do Estado (Foto: Tatiana Santiago/G1)Comerciante Auzugaria Brito sentiu sua inteligência subestimada com a oferta do Governo do Estado (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Comerciante Auzugaria Brito sentiu sua inteligência subestimada com a oferta do Governo do Estado (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Em nota, a CDHU informa que está prestando todo auxílio para as famílias cadastradas na Quadra 36 e que, além do lanche e das caixas de papelão, irá disponibilizar caminhões para o transporte dos móveis e demais objetos pessoais, transporte das pessoas aos locais indicados, e que o valor do auxílio-moradia já está disponível para saque. (Leia a nota completa abaixo)

O local alvo da desocupação é a Quadra 36 do bairro Campos Elíseos, onde vivem cerca de 200 famílias. O pedido para a retirada das famílias havia sido feito pelo governo do estado em 2013. No entanto, uma liminar suspendeu o pedido de reintegração de posse. Só sairão do local neste domingo os moradores que aceitaram o acordo feito pelo governo do estado para o recebimento do auxílio-moradia.

Quadra 36 faz parte de terreno da Cracolândia que será desapropriado para a construção de hospital (Foto: Tatiana Santiago/G1)Quadra 36 faz parte de terreno da Cracolândia que será desapropriado para a construção de hospital (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Quadra 36 faz parte de terreno da Cracolândia que será desapropriado para a construção de hospital (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Saída do Centro de Lima, no Peru, para tentar uma vida melhor no Brasil, a faxineira Hilda Luz, 35 anos, está desempregada. Ela mora com dois filhos e com o tio de 66 anos. “Não tenho pra onde ir”, diz.

Catarina Vieira Machado, 19 anos, decidiu sair, mas reclama que o valor do auxílio é insuficiente para alugar um imóvel no Centro e irá para a periferia. “Cinco caixas não fazem diferença. Eu tenho que levar minha geladeira. Parece que querem comprar a gente para sairmos logo. A gente não é qualquer um que dão um lanchinho e tchau”, desabafa.

Antonio Rodrigues Soares, 44 anos, é auxiliar de produção. Desempregado, sobrevive de bicos. Cearense que veio para a capital paulista há um ano, paga R$ 100 de aluguel na ocupação. “Fiquei magoado, fiquei com muita angústia, me senti um lixo”, reclama sobre o comunicado.

Faxineira Hilda Luz veio de Lima, no Peru, para o Brasil com o tio tentar uma vida melhor (Foto: Tatiana Santiago/G1)Faxineira Hilda Luz veio de Lima, no Peru, para o Brasil com o tio tentar uma vida melhor (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Faxineira Hilda Luz veio de Lima, no Peru, para o Brasil com o tio tentar uma vida melhor (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Nota CDHU

Em nota a “Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) esclarece que está prestando todo o suporte necessário às 163 famílias cadastradas pela Prefeitura de São Paulo e que receberão atendimento habitacional do Governo do Estado, primeiramente, provisório, por meio do auxílio-moradia e, posteriormente, com unidades habitacionais. Destas famílias, 108 já estão com o auxílio moradia disponível para saque, valor correspondente a três parcelas do auxílio-moradia, totalizando R$ 1.200,00.

No domingo, dia 15, as famílias terão o suporte da equipe social da CDHU para efetuar a mudança voluntária. A logística fornecida pela concessionária da Secretaria de Estado da Saúde inclui caminhões com carregadores para transporte dos pertences, vans para o transporte das pessoas (para os endereços indicados pelas próprias famílias), insumos para facilitar o transporte e a guarda dos pertences como caixas, fitas adesivas, plásticos-bolha, etc. Aqueles que não têm onde guardar os pertences terão à disposição um local para depósito. Além disso, terão à disposição lanches e água”.

Governo estadual de São Paulo oferece lanches e caixas de papelão aos moradores da Quadra 36 da Cracolândia (Foto: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo)Governo estadual de São Paulo oferece lanches e caixas de papelão aos moradores da Quadra 36 da Cracolândia (Foto: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo)

Governo estadual de São Paulo oferece lanches e caixas de papelão aos moradores da Quadra 36 da Cracolândia (Foto: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo)

Reintegração de posse

Em março deste ano, a Justiça já havia atendido à solicitação do Governo do Estado, mas, em abril, suspendeu a ação, após um pedido de liminar do Ministério Público (MP).

De acordo com a decisão da juíza, existia a necessidade da formação do conselho gestor e do atendimento habitacional para os afetados pela reintegração. Como a Quadra 36 fica em uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 3), o Plano Diretor obriga a formação de um conselho gestor.

Por lei, o Estado só pode realizar a imissão de posse se realizar o atendimento populacional e formar o Conselho Gestor.

O Governo recorreu da decisão e, nesta sexta-feira, a Justiça de São Paulo voltou a determinar a liberação da área, antes da reunião para formação do Conselho Gestor, que ocorreu neste sábado (14).

Prefeitura de São Paulo

A Prefeitura de São Paulo informou que realizou durante os meses de fevereiro e março, após notificação do Estado, a selagem dos imóveis e o cadastro das famílias moradoras da quadra 36 para garantir o direito de atendimento habitacional, conforme estabelece o Plano Diretor.

Foram realizadas diversas reuniões com os moradores para formação do Conselho Gestor, já que a Quadra 36 fica em uma ZEIS 3.

“Durante o cadastramento, realizado em dias e horários variados, a secretaria identificou 163 domicílios e cadastrou 147 famílias, dessas 111 optaram pelo atendimento com auxílio-moradia pago pelo Governo do Estado (CDHU) que irá desapropriar a área. O restante não aceitou ou manifestou interesse”, diz a nota.

138
COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.

RECENTES

POPULARES

  • Everton Gomes

    HÁ 24 MINUTOS

    Maldita globalização do inferno porque nunca fica cada um no seu país de origem desgraça!

MAIS DO G1

Rate this post



Comentários com Facebook




Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.