FOTOS IMAGENS -Casal acusado de matar zelador quer vender apartamento onde teve crime


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O apartamento 111, no 11º andar de um prédio de tijolos a vista, na Rua Zanzibar, Zona Norte de São Paulo, está à venda. Por R$ 280 mil – R$ 100 mil a menos do preço de mercado -, o comprador terá dois quartos, com dois banheiros, sala, cozinha e área de serviço. O imóvel de 56 metros quadrados, com vista para a Marginal Tietê, também dá direito a uma vaga para carro na garagem. O condomínio custa R$ 420 mensais.

O G1 visitou o local e o fotografou. Mas, apesar de a oferta parecer tentadora, o anúncio acima ainda não foi publicado em jornais ou na internet. A equipe de reportagem apurou que a informação sobre a venda corre no boca a boca. Um dos motivos é o fato de que foi neste mesmo apartamento que o zelador Jezi Lopes Souza, de 63 anos, acabou morto em 30 de maio.

O casal, dono do imóvel, está preso acusado do crime. Agora, o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins, de 47, e sua mulher, a advogada Ieda Cristina Cardoso da Silva Martins, 42, querem vender o apartamento. Os dois moravam nele com o filho de 10 anos.

À polícia Eduardo confessou participação na morte de Jezi, mas alegou que ela foi acidental e ocorreu após uma briga entre eles. O publicitário aproveitou para inocentar a esposa, que também negou envolvimento no assassinato. Ieda havia dito que não sabia que o corpo do zelador estava dentro da mala que ela ajudou a descer até a garagem.

O marido e a advogada aparecem em imagens gravadas por câmeras de segurança descendo o elevador com bagagens até o automóvel do casal. Eduardo confessou ter esquartejado o cadáver de Jezi em 17 partes em Praia Grande, litoral paulista. O publicitário foi preso em flagrante quando queimava as partes numa churrasqueira.

A cobertura da imprensa, descrevendo como o crime ocorreu, ainda assusta os interessados em comprar algum imóvel no condomínio residencial Oklahoma. Por isso, alguns apartamentos acabaram desvalorizando no mercado. É o caso do próprio apartamento 111, onde morava o casal Martins.

“Se estão pedindo R$ 280 mil pelo imóvel, então o preço está bem abaixo do que ele vale”, disse ao G1 o corretor de imóveis Nelson Martins, que apesar do sobrenome não é parente de Eduardo e Ieda. “O preço ideal de um imóvel no prédio está entre R$ 350 mil até R$ 380 mil”.

Ele foi consultado pela equipe de reportagem para dar sua opinião a respeito da desvalorização do apartamento por causa do assassinato do zelador. “Eu não moraria num apartamento assim, se soubesse que morreu alguém no imóvel”, respondeu Nelson ao ser questionado se compraria o imóvel do casal.

O corretor alegou que as pessoas não gostam de morar em locais onde ocorreu um crime e ele não é diferente. Nelson disse ter tido dificuldades para negociar outros apartamentos no mesmo edifício do crime.

“Depois do crime ninguém mais me procurou para comprar apartamento no prédio”, disse Nelson, que tenta vender alguns imóveis no edifício. “E quando a pessoa liga e pergunta se o apartamento fica no prédio de tijolinho e eu respondo que sim, ela desiste até de querer olhar o imóvel.”

Apartamento do casal Martins está à venda (Foto: Kleber Tomaz / G1)Apartamento do casal Martins está à venda
(Foto: Kleber Tomaz / G1)

Desistências
Quantas pessoas já desistiram? “Pelo menos dez pessoas desistiram. Falam: ‘lá eu não quero, é o prédio onde mataram o zelador’”, disse Nelson, que conhecia Jezi. “Era uma pessoa tranquila e solícita. Nem dormi quando soube que ele foi morto”.

Procurado pelo G1 para comentar o assunto, o advogado Marcello Primo, que defende Ieda, confirmou que sua cliente tem intenção de vender o imóvel. “Até porque se ela sair da prisão, não pretende mais ir morar lá”, disse seu defensor.

Indagado, o advogado Rubens de Castro, que atua na defesa de Eduardo, disse desconhecer a intenção do publicitário de pôr o apartamento à venda. “Não ouvi isso ainda”, afirmou.

Videoconferência
Na terça-feira (7), a Justiça de São Paulousou o sistema de videoconferência na primeira audiência do casal Martins. Não foi um julgamento. Tratou-se de audiência de instrução, como é chamada a etapa do processo que precede um eventual júri.

Com o nome técnico de “teleaudiência”, a sessão ocorreu no Fórum da Barra Funda, Zona Oeste da capital paulista.

Eduardo e Ieda são réus no processo que apura o assassinato de Jezi na capital paulista. Os dois ainda são acusados de matar o ex-marido dela, o empresário José Jair Farias, 57, em 2005 no Rio de Janeiro (leia mais abaixo).

Martins e Ieda estão presos preventivamente pelos homicídios. Ele está detido em Tremembé, interior de São Paulo, e ela, em Bangu, no Rio. O publicitário foi à audiência na Barra Funda, mas a advogada acompanhou a sessão por um televisor de dentro da prisão carioca.

Esqueleto para estudos dentro do apartamento do casal Martins (Foto: Kleber Tomaz / G1)Esqueleto para estudos dentro do apartamento do
casal Martins (Foto: Kleber Tomaz / G1)

Enquanto o publicitário será interrogado diretamente pelo juiz Rodrigo Tellini no fórum de São Paulo, a advogada, que estará no estado do Rio, poderá responder as perguntas do mesmo magistrado. A oitiva dos réus, última etapa da audiência, deverá ocorrer em 3 de dezembro.

Na terça-feira foram ouvidos depoimentos de mais de 20 das 37 testemunhas, entre acusação e defesa. As demais testemunhas serão ouvidas por carta precatória.

Somente após interrogar o casal é que o juiz irá decidir se eles devem ser submetidos a júri popular pelo assassinato do zelador.

Para a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), o publicitário foi o executor do crime contra o zelador e a mulher o ajudou.

Laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que quem matou o zelador usou um serrote para esquartejá-lo. Souza foi morto no edifício onde trabalhava em São Paulo, e teve o corpo encontrado aos pedaços em 2 de junho, no litoral paulista.

Acusado de cometer o assassinato, o publicitário confessou ter tentado se livrar do cadáver queimando os pedaços na churrasqueira.

O exame necroscópico aguarda os resultados de outros laudos complementares para tentar determinar a causa da morte do zelador. De acordo com o documento, ainda não é possível saber o que matou a vítima, porque as análises no cadáver foram prejudicadas pelo número de pedaços e o estado de decomposição. Novos testes foram solicitados à Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Eles ainda não ficaram prontos.

Objetos dentro do armário do quarto do casal Martins (Foto: Kleber Tomaz / G1)Objetos dentro do armário do quarto do casal Martins
(Foto: Kleber Tomaz / G1)

Morte acidental
Apesar de ter confessado o esquartejamento do zelador, Martins alegou que a morte de Souza foi acidental, após briga com troca de socos quando o funcionário entregava cartas no 11º andar. Segundo a defesa, o funcionário teria batido a cabeça e morrido no apartamento 111 onde o casal morava com o filho de 10 anos, no condomínio da Rua Zanzibar, no bairro da Casa Verde. Ieda e a criança não estariam no local na hora da confusão.

Câmeras de segurança do edifício gravaram o zelador ao sair do elevador, no andar dos Martins, e não aparecer mais. As imagens também mostram o publicitário e a advogada levando malas ao carro deles, que estava na garagem. Dentro de uma bagagem estaria o corpo do zelador. Apesar dessas filmagens, o publicitário inocentou a mulher.

Ele disse que levou a bagagem com o cadáver para Praia Grande. Lá, segundo sua versão, esquartejou a vítima com um serrote. A família do zelador registrou seu desaparecimento e a polícia passou a investigar o sumiço. No litoral, policiais o prenderam em flagrante queimando os restos mortais.

Martins declarou que agiu sozinho. Ele alegou que Ieda não sabia de nada. Ela também negou ter participado dos crimes.

Para a polícia e o MP, Souza foi assassinado dentro do apartamento do casal por causa de brigas e discussões frequentes que tinham por causa do condomínio.

publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins,  zelador Jezi Lopes de Souza, (Foto: Caio Prestes/G1)Zelador Jezi Lopes de Souza (Foto: Reprodução)

O publicitário responde por homicídio doloso, no qual há a intenção de matar; ocultação de cadáver; falsificação de documento e porte ilegal de arma. A advogada Ieda é acusada de homicídio, ocultação e porte de arma.

Rio de Janeiro
Até esta terça-feira, Ieda permanecia detida no Rio de Janeiro. A advogada está presa por decisão da Justiça daquele estado, onde foi acusada de matar o ex-marido José  Farias em 20 de dezembro de 2005. A Justiça paulista, no entanto, determinou que Ieda seja transferida novamente para São Paulo, onde deverá ficar presa pela morte do zelador. Apesar disso, a medida ainda não foi cumprida.

O publicitário também é investigado pela Polícia Civil do Rio por suspeita de ajudar Ieda a assassinar José a tiros perto da empresa da vítima. Tanto Eduardo quanto Ieda negaram à polícia qualquer envolvimento neste crime. O caso do assassinato do empresário já havia sido encerrado sem apontar culpados, mas foi reaberto após a repercussão da morte do zelador.

A polícia fluminense decidiu reabrir o inquérito que apurava a morte de José após a polícia paulista apreender armas que estavam com o casal em São Paulo e em Praia Grande. Foi pedido um laudo de comparação balística entre elas e as balas que mataram o empresário no Rio. O resultado apontou que o cano de pistola 380 e silenciadores apreendidos no apartamento dos Martins foram usados para matar o ex-marido de Ieda.

Um revólver calibre 38, encontrado no litoral, teria sido usado para dar uma coronhada na cabeça de Souza. Todo o armamento estava em situação irregular, pois o casal não tinha autorização para tê-lo. Questionados pela polícia, Martins e Ieda não deram informações de como conseguiram as armas.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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