FATOS-Ipea aponta que os mais ricos têm 9,5 vezes mais chances de se deslocar a pé ao trabalho que os mais pobres em SP



Movimentação de pedestres na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Sul de SP — Foto: Ronaldo Silva/Estadão ConteúdoMovimentação de pedestres na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Sul de SP — Foto: Ronaldo Silva/Estadão Conteúdo

Movimentação de pedestres na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Sul de SP — Foto: Ronaldo Silva/Estadão Conteúdo

Se deslocar a pé de casa ao trabalho pode ser considerado um luxo no Brasil. É o que sugere um estudo divulgado nesta quinta-feira (16) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que revela, por exemplo, que em São Paulo os mais ricos têm 9,5 vezes mais chance de encontrar oportunidades de trabalho que podem ser acessadas a pé em até 30 minutos.

“Uma coisa que a gente encontrou como padrão geral para todo o país é que, via de regra, pessoas de mais alta renda e pessoas brancas têm acesso a oportunidades maior que pessoas negras e de baixa renda”, enfatizou o pesquisador do Ipea Rafael Pereira.

Foram analisados dados das 20 cidades mais populosas do Brasil. São Paulo liderou o ranking da desigualdade considerando a chamada Razão de Palma, que compara os 10% mais ricos da população aos 40% mais pobres.

Razão de Palma para empregos acessíveis em até 30 minutos a pé
Diferença de oportunidades entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres das 20 cidades mais populosas do país.
9,59,5776,26,25,65,65,45,45,35,35,25,24,34,33,43,42,92,92,72,72,72,72,62,62,62,62,52,52,52,52,32,32,22,21,91,91,71,7São Paulo (SP)Belo Horizonte (MG)Campo Grande (MT)Goiânia (GO)Porto Alegre (RS)Brasília (DF)Curitiba (PR)Campinas (SP)Fortaleza (CE)Guarulhos (SP)Natal (RN)Belém (PA)Duque de Caxias (RJ)Salvador (BA)Rio de Janeiro (RJ)Manaus (AM)São Luis (MA)Recife (PE)São Gonçalo (RJ)Maceió (AL)0102,557,5
Fonte: IPEA e ITDP

No lado oposto a São Paulo no ranking aparece Maceió, onde os mais ricos têm 1,7 vezes mais oportunidades de trabalhado acessíveis a pé que os mais pobres.

“Mesmo onde a desigualdade entre ricos e pobres é menor, ela é quase o dobro”, enfatizou o pesquisador Rafael Pereira ao comentar o dado da capital alagoana.

“Isso pode ser explicado, em parte, pela distribuição sócio-espacial de renda e oportunidades e a dimensão da cidade, que faz com que os pobres estejam concentrados longe das principais zonas de empregos, acontecendo o contrário para os ricos”, destaca o estudo.

“Nas cidades brasileiras, isso [ir a pé para o trabalho] é um privilégio para poucos”, reforçou Bernardo Serra, gerente de políticas públicas do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), parceiro do estudo.

Essa desigualdade no acesso, segundo Braga, é histórica. “É um reflexo das nossas políticas urbanas de vários anos, de como as cidades foram construídas. Os equipamentos e as oportunidades estão, em geral, mais concentrados no centro ou em áreas privilegiadas das cidades”, disse.

Uma curiosidade apontada pelos pesquisadores neste ranking que considera o acesso a pé a oportunidades de trabalho é a condição do Rio de Janeiro, que apresenta uma das menores desigualdades do ranking. Segundo eles, isso se deve à aglomeração de pessoas de baixa renda próximas ao centro da cidade, ou seja, as numerosas favelas localizadas na região central da cidade.

A pesquisa também analisou o acesso a escolas e hospitais, tanto pelo transporte ativo – a pé e bicicleta – quanto pelo transporte público. No campo da educação, em praticamente todas as cidades, os moradores de áreas mais pobres precisam gastar mais tempo de deslocamento que os mais ricos.

Cidades como Belém e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por exemplo, se destacam negativamente. Nelas, os 20% mais pobres da população precisam gastar, em média, o dobro de tempo dos 20% mais ricos para acessar a escola mais próxima de casa.

Na saúde, Campinas, no interior de São Paulo, é onde a diferença de acesso entre a parcela da população negra e a branca é maior. Isso significa dizer que os brancos tem acesso a um número de hospitais quase 2,5 vezes maior que os negros. Maceió também aparece como a cidade menos desigual.

Todos os dados da pesquisa foram reunidos em uma plataforma online, batizada Projeto Acesso a Oportunidades (https://www.ipea.gov.br/acessooportunidades). Segundo os pesquisadores, o objetivo é que pesquisadores e gestores públicos tenham livre acesso a todos os dados para avanço nos estudos e elaboração de políticas públicas.

O Ipea enfatizou, ainda, que a abrangência da pesquisa deverá ser ampliada, com a inclusão de mais cidades na análise além da atualização periódica de dados.

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