ALTO DO RODRIGUES RN-Com o caso José Mayer tautismo da Globo fica na corda bamba, por Wilson Ferreira


SEX, 07/04/2017 – 08:33

por Wilson Ferreira

O caso do assédio do ator José Mayer à figurinista Susllem Tonani é marcado por uma ironia fundamental: um ator, conhecido por interpretar nas telenovelas sempre o mesmo perfil de personagens machistas e misóginos, é denunciado por recorrentes assédios nos bastidores da Globo. Mera coincidência ou sincronismo entre ficção e realidade? Desde que o chamado “O Método” (criado pela Actors Studio em 1947) se perverteu em fórmula criadora de um tipo de ator que se limita a interpretar a si mesmo em repetitivos perfis de personagens estimulados pela linha de montagem de TV e estúdios de cinema, casos como esses se tornaram recorrentes. No caso da Globo, marcado por um tautismo (tautologia + autismo) crônico, essa “doença ocupacional” fica ainda mais evidente. Principalmente quando a reação tanto do ator quanto da cúpula da emissora foi idêntica: alheios às mudanças que ocorrem no “deserto do real” (empoderamento feminino, lutas por respeito, diversidade etc.) são pegos de surpresa e tentam dar respostas oportunistas. E a da Globo é a mais equizofrênica: diz respeitar as mulheres enquanto diariamente as submete a papéis subalternos em reality shows, telenovelas e propagandas de cerveja.  

Era começo dos anos 1990. Em mais uma edição do Programa Matéria Prima da TV Cultura, apresentado por Serginho Groisman, o ator Paulo Autran era o convidado. Com extensa atuação no teatro, naquele momento Autran era mais conhecido pelos papéis em novelas da TV Globo como Guerra dos Sexos e Sassaricando.

Groisman abriu para perguntas da plateia. E um jovem indagou: “Autran, de todos os papéis em novelas da TV, qual deles tinha mais a ver com você?”. 

“Nenhum!”, respondeu Autran de maneira enfática. E explicou que na profissão o ator deve representar e jamais ser o próprio personagem, isto é, o ator deve manter sempre um certo distanciamento em relação a ficção.

Essa resposta mostrou como Paulo Autran era filiado a uma escola clássica de representação na qual a memória emocional (o psiquismo do ator) era usada com cautela para dar realismo ao personagem. Na verdade era mais uma técnica entre várias – concentração cênica, ações físicas etc. 

Depois do chamado “O Método” (sistema de atuação proposto pela Actors Studio de Nova York em 1947 cujos maiores expoentes foram Marlon Brando e James Dean) tudo isso mudou: a ênfase passou a ser na experiência emocional do ator necessária para dar realismo ao personagem – o ator não pode se limitar a representar, mas também deve fornecer ao personagem o psiquismo pessoal (sua memórias, medos e desejos) para dar espontaneidade e autenticidade à encenação.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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