ALTO DO RODRIGUES RN-Campanha propõe reflexão à Igreja


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Há 50 anos abordando questões sociais, o tema da Campanha da Fraternidade de 2015, que a  Igreja Católica Brasileira lança hoje, chama a atenção para uma reflexão interna.  Com o tema  “Igreja e Sociedade”, a campanha propõe que a Igreja redescubra o seu papel nas comunidades. O lema responde previamente a questão com uma frase extraída da Bíblia: “eu vim para servir” (Marcos 10,45). Assim, a reflexão se debruça principalmente sobre o papel social da religião que é majoritária no Brasil.

Alex RégisAproximar a Igreja das demanda sociais, segundo pe. João Maria do Nascimento, é o objetivo da Campanha da Fraternidade 2015Aproximar a Igreja das demanda sociais, segundo pe. João Maria do Nascimento, é o objetivo da Campanha da Fraternidade 2015

Lançada nacionalmente na Quarta-feira de Cinzas, a apresentação oficial do tema em Natal será em 1º de março. O coordenador da campanha na Arquidiocese de Natal, Padre João Maria do Nascimento, diz que uma das funções da Igreja é de serviço, de transformar a sociedade e de conscientizá-la.  “A Igreja deve ser servidora e deve estar ao lado dos mais fracos, levantando a bandeira daqueles que não têm voz nem vez. Nos lugares mais longíquos a Igreja está. Sempre preocupada com o desenvolvimento humano. Se é na luta de classes, a Igreja está ali para defender o povo”, comentou.

No passado, esse papel social era mais amplo. Na época do Brasil Império, a igreja católica era a religião oficial. Estado e Igreja não se dissociavam. O padre lembra que a força dela era tanta que os grande hospitais, chamados de Casas de Caridade, tinham gerência religiosa.

O sociólogo e professor doutor da UFRN João Bosco Araújo explica que em um Estado que possui fragilidades, o caráter assistencialista das religiões se fortalece, para além dos seus fieis. “Em países como Estados Unidos e Canadá eu não acredito que sejam as igrejas que estejam nas ruas distribuindo sopa”.

Para os seus adeptos os significados são outros. Reunindo pessoas com a mesma fé, as religiões contribuem para a construção da identidade do indivíduo. “A religião dá um certo lugar no mundo, pertencimento, compõe parte da sua identidade”, disse João Bosco. “Um dos objetivos das igrejas é de produzir identidade”, resume.

O professor classifica as Campanhas da Fraternidade como muito importantes para a sociedade, apesar de ter começado paralelo ao Regime Militar. “Geralmente elas chamam atenção para aspectos mais medonhos da sociedade brasileira”. Ele lembra do ano em que o catolicismo brasileiro abordou as prisões, em 1997. O tema era “A Fraternidade e os Encarcerados”.

“Nós temos uma Segurança Pública que nasce do capitão do mato. O nosso sistema jurídico e de segurança nasceu pra pegar os escravos fujões. Por isso que no Brasil você tem uma segurança pública em que primeiro se prende pra depois investigar”, contextualiza.

Este ano a Campanha é diferente. Não aborda nenhum ponto específico. E pode-se dizer que trata de uma revisão do Concílio Vaticano II, assembleia no Vaticano entre 1962 e 1965, porque também olha para si mesma, de acordo com o Padre João Maria.

“O interessante é que o objetivo geral da campanha esse ano nos chama atenção para que a gente possa aprofundar, à luz do evangelho, o diálogo e a colaboração entre Igreja e sociedade”, disse, enumerando alguns subtemas que podem ser discutidos nesse momento: a presença do leigo na igreja, desequilíbrio social, ganância do ter e do poder.

Bate-papo – Elaine Tânia Freitas
Antropóloga e professora doutora da UFRN

A Igreja precisa enfrentar a disparidade entre o discurso e as demandas sociais

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Igreja e Sociedade”. Qual o papel da Igreja Católica hoje no Brasil?
Historicamente,  a Igreja Católica faz parte do nosso país. Ela é estrutural. Tanto que a gente naturaliza. Ressaltamos quando a pessoa é de “outra” religião. É budista, é adepto de uma religião afro-brasileira. Mas quando é católica não ressalta porque é como se fosse parte da cultura brasileira. Começa daí. A gente sempre teve esse discurso de que o Brasil é um país católico. O que vem sendo posto em cheque pelo crescimento das outras religiões e outras vertentes cristãs não católicas. O que eu acho que vem acontecendo em uma relação mais geral não só do catolicismo, mas da religião com a realidade social é que tem havido uma transformação nas pautas de discussão com o surgimento de demandas de grupos até então minoritários e de pouca voz no espaço público. Minorias gays, minorias raciais, demandas feministas.

O que esperar?
Você pode de antemão dizer que é uma postura desfavorável ao aborto, por exemplo. O que eu penso é que essa temática da campanha desse ano talvez mostre um reconhecimento por parte da Igreja quanto à necessidade de enfrentar essas disparidades entre o discurso tradicional e essas demandas que estão sendo colocadas aí. O que vai resultar disso a gente não sabe, mas acho que é um sinal de boa vontade e de interesse em abrir diálogo. Espero inclusive que os movimentos sociais, aproveitem esse espaço para dialogarem com as autoridades religiosas. A política de pura e simples proibição não impede que as práticas de ações que são contrárias a essas crenças continuem acontecendo.

A Igreja Católica ainda exerce um papel de peso no Brasil?
Sim. E as outras também. Simplificam muito o papel da religião na vida das pessoas, como se as religiões fossem apenas alienantes, aquele clichê antigo “o ópio do povo”. Mas as religiões têm um papel importante na mobilização em prol de causas importantes para a coletividade. Pode ser importante para oferecer suporte emocional. Muitas vezes as pessoas encontram lá um apoio, um amparo da comunidade. Igreja é comunidade. Uma de igreja é comunidade de crença. É ali que você encontra pessoas que têm os mesmos princípios, os mesmos valores. Você permanece ali porque se sente apoiado e parte de uma coisa maior. Para além da fé em uma entidade ou em várias, você está lá porque se sente acolhido, porque tem um programa para fazer no domingo, pra ouvir aquela música. As religiões não pode ser minimizadas. Acho até que é legítimo ocuparem um espaço na esfera pública inclusive na política. Tanto se demanda a ocupação de espaços em nome de outras causas. É legítimo. Só que pra todas, não só as cristãs. Tem que haver mais espaço de representação para religiões afro-brasileiras, para as de origem oriental e outras que são menos citadas.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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