ALTO DO RODRIGUES RN-A reconstrução do povo brasileiro, por Rogério Maestri


A reconstrução do povo brasileiro

por Rogério Maestri

Inquestionavelmente o maior e melhor político brasileiro do século XX, Getúlio Vargas, que evoluía junto com a própria nação, desde o início de sua carreira política procurava um ideal, a construção da imagem do povo brasileiro.

Esta construção desta imagem que foi durante a época de Getúlio se tornando mais inclusiva e mais ampla, foi também tentada após este líder e em outras janelas temporais, porém as tentativas de destruí-la foram mais efetivas e mais constantes. Num primeiro momento estas tentativas eram feitas por intelectuais de todos os matizes que se sentindo alijados pelas palavras de Getúlio, que falava tanto no povo brasileiro como um ente abstrato procuraram clivar o sentimento de nacionalidade. Muitos pensavam e ainda pensam que este sentimento conspira contra a diversidade não permitindo a todos se identificar com a grande massa trabalhadora.

A própria urbanização acelerada fazia que quando o homem vindo do campo que não achasse o seu lugar na produção industrial criando imensas camadas alijadas do processo produtivo, sendo claramente identificada por estereótipos de favelados ou até mendigos, produzindo uma espécie de sub-cidadão, não povo, mas sim uma parte alijada dele.

Em momentos de crescimento acelerado da economia, parte destes alijados eram incorporados à massa trabalhadora, passando os mesmos a se sentirem cidadãos e pertencerem a algo maior.

Porém ao mesmo tempo em que massas eram incorporadas a ideia de um povo brasileiro, surgiam outras acelerações centrífugas que sobrepujando a ideia citada, vão retirando de alguns o sentido de pertencimento de algo maior.

Não incluo na criação deste povo brasileiro os capitalistas brasileiros, estes que como originários das oligarquias exportadoras nacionais de olhos mais voltados para o oceano do que para a nação, jamais se auto incluíram nesta classificação. Primeiro pretendiam pertencer a uma Europa fechada e aristocrática que era considera a fonte única do conhecimento e da razão. Porém a própria sofisticação das elites europeias faziam que uma tentativa de penetrar na mesma era algo quase que completamente impossível para as oligarquias nacionais figuras que mais caricatas ou folclóricas do que seres reais.

Mais recentemente, para regozijo dos capitalistas e arremedos de capitalistas brasileiros, o paradigma de sucesso capitalista e cultural se tornou a parte superficial, aparente e visível das oligarquias norte-americanas, e dentro da concepção bizarra e primitiva da “elite” brasileira, que nos centros de compras e diversões dos parques temáticos na Flórida eles encontram o seu Eudorado, dão aos mesmos uma impressão naïve de ter chegado lá.

O pior é que nossa antigamente denominada pequena burguesia, a Europa era algo praticamente indecifrável, porém a vulgaridade e o também acolhimento neste estado de classes médias norte-americanas com algum sucesso, tornam esta parte dos Estados Unidos também como algo atingível e inteligível aos seus sonhos.

Porém a maior deterioração da imagem de pertencimento ao homem brasileiro é criada para esta mesma pequena burguesia pela ilusão do sucesso individual, a nova teologia da fantasia do empreendedorismo e a ilusão de conseguir atingir as camadas superiores e descompromissadas do espírito nacional, retiraram de grande parte da população a mera constatação pura e simples que a sociedade é, e será dividida pelas oligarquias que mandam e o povo que obedece.

Alguns animadores da esperança criaram fantasias como a de não tendo emprego que crie o seu trabalho ou da saída individual, como outras fantasias também perversas. Estes animadores da esperança, distribuídos entre autores de livros de autoajuda, pastores da teologia da prosperidade e, por incrível que pareça, aliada a esta fauna encontram-se economistas e administradores que deveriam ter a plena noção teórica da inviabilidade desta nova teologia. Isto tudo tira a noção da importância do bem fazer, do bem produzir, ou seja, do profissional competente e bem treinado, para transforma-la na esperança de simplesmente a recompensa do lucro pelo nada feito.

Mesmo quando partidos progressistas quando criam melhores centros de treinamento que permitem que o operário ou o profissional aumente a sua produtividade e com isto possa reivindicar um salário melhor, caem na armadilha de empregar expressões impregnadas de sentido de saída individual nos seus toscos discursos políticos, fazendo que satisfeito em parte um primeiro passo de uma caminhada tortuosa e praticamente impossível se torne o combustível da negação do esforço da nação em dar a sua primeira oportunidade em sua vida.

As manifestações que ocorrem contra uma visão de uma nação brasileira não são compostas somente por membros de nossa oligarquia, na verdade a participação deste pequeno grupo social é mínima. A imensa maioria dos manifestantes tenta manter os privilégios que não são seus, mas que algum dia almeja que sejam. Desta forma se comportam de forma conservadora e subserviente procurando manter simplesmente a esperança de um dia participar da divisão maior dos lucros da nação.

A quebra do sentido de pertencer ao “povo brasileiro”, de fazer parte de um grande sonho de levar junto a todos a distribuição real da prosperidade, leva a total clivagem da sociedade brasileira.

Simplificar o problema da rejeição figura de um metalúrgico que teve sucesso e chegou a posição de presidente de um país, como uma mera rejeição a um passado operário e portanto impossível de progredir, é uma retro alimentação a rejeição real do mesmo não ter se travestido de alguém que sempre pertenceu aos favorecidos, ao contrário disto e que apesar do sucesso mantém suas características de operário. Como contra exemplo da origem desta rejeição pode-se citar Evita Perón, que com vestidos e joias fantásticas era a rainha dos descamisados.

A rejeição, a uma figura que apesar de sucesso manteve suas características humanas vinculadas a sua própria origem, é demonstrada claramente através das desqualificações do mesmo como alguém que não reflete a imagem de sucesso dos grupos de poder. Por outro lado, representações teatrais de um homem de sucesso e mediatizado preenchem o imaginário da parte da população que perdeu a noção de pertencer ao povo brasileiro.

Em resumo, perdeu-se o ideal de construção de um povo brasileiro, com todas as suas idiossincrasias de grande parte da população, e todas as suas características foram em parte substituídas pelo próprio desejo de aparecer, por exemplo, através da posse um automóvel que representa o poder, uma verdadeira fixação nacional. Porém esta fixação nacional mostra de forma torta que ainda somos um povo, pois até no comportamento ostentatório de trocar o ser pelo parecer, mantemos uma identidade. Esta última observação mostra que, por mais que queiramos ser o que não, temos uma identidade comum, que está latente e procurando a sua reconstrução.

A reconstrução do povo brasileiro ou mais corretamente da identidade do homem brasileiro como povo, tem no momento da crise, que se aproveitada, pois mediada as partes que socialmente pertencem ao mesmo grupo, mas não se identificam como tal, a identidade pode ser construída e reconstruída a parte existente, e paradoxalmente no momento desta crise a não da prosperidade que uma imensa janela se abre. Sendo que ela deve ser aproveitada por todos aqueles que querem uma construção de um país solidário, pois a auto identificação leva automaticamente a solidariedade.

 

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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