Ações de Graça, Louvor e Adoração


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Ações de Graça, Louvor e Adoração

A ADORAÇÃO — 3 DE JULHO DE 2012 8:52 PM
por: Adrian Theodor [1]

Os termos listados no título de nosso artigo são comumente confundidos como sinônimos em comunidades cristãs de modo geral. Muitas vezes, inclusive, algumas traduções bíblicas trazem estas palavras com uma tradução única. Porém, ao analisarmos biblicamente os conceitos básicos de cada termo, verificamos que existem diferenças profundas – embora sutis – entre eles. Na verdade, notamos que a Bíblia nos mostra de forma bastante clara e definida a diferença entre estes termos. Desta forma, pensamos que se faz necessária uma breve reflexão relacionada a estes conceitos bíblicos diferenciados.

Pode parecer, ao olhar mais superficial, um preciosismo intelectual; todavia, ao pensarmos que tais palavras têm relação direta com nossa atitude para com Deus, devemos refletir sobre suas nuances e verdadeiros significados. Nada melhor para nos guiar nesta reflexão do que a própria Palavra dAquele que é o foco destas ações.

I. O Significado e Propósito de Ações de Graça

Ações de graça nada mais são do que a expressão da gratidão que temos para com Deus por todas as Suas realizações em nossa vida, passadas, presentes ou mesmo futuras.

Portanto, Ações de graça, são expressões gerais de gratidão (Salmo 13:6); gratidão pela condução segura de nossas vidas pelo Senhor (Salmo 95:2); e reconhecimento de que a providência divina é onisciente e simplesmente executa o melhor em favor de Seus filhos (I Tessalonicenses 5:18).

Deste modo, oferecer “ações de graça” (ou agradecer, do grego eucharisteo) a Deus é apropriar-se de Suas bênçãos em nossa vida. É uma atitude que parte do reconhecimento de que tudo o que acontece na vida do crente, bom ou supostamente ruim, passa antes pelo crivo onisciente do Criador e Mantenedor do mundo.

Sendo assim, devemos sempre dar graças (I Tessalonicenses 5:16-19)!. Esta é a vontade de Deus para nós, que vivemos neste mundo em um contexto de pecado e morte. Vemos abaixo alguns exemplos de situações nas quais deveríamos dar graças a Deus e oferecer a Ele ações de graça:

  • Jesus veio para destruir as obras do mal, o que significa que o mal está entre nós, faz parte de nós, desde o pecado: “O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10:10. NVI); As obras do mal são: matar, roubar e destruir. As obras do bem são provenientes da ação do Espírito na vida dos que aceitam a verdade (Filipenses 2:13);
  • O próprio Cristo enfrentou o pecado e suas conseqüências. A vida neste mundo não é uma promessa de “mar de rosas”, mas sim de peregrinação em nome de Jesus. (I Pedro 2:23-25) Devemos dar graças pela salvação em Cristo (I Pedro 4:13);
  • Dar graças, mesmo em meio às enfermidades (Jó 2:8-10);
  • Graças pelas respostas de Deus aos ataques de Satanás (Lucas 6:22-23);
  • Graças pelo fato de podermos ser chamados filhos de Deus, corpo de Cristo (Colossenses 3:15), participantes das promessas de Deus (Efésios 3:6; II Pedro 1:4);
  • Podemos dar Graças pela palavra de Deus, revelada na Bíblia, no espírito de profecia e no próprio Senhor Jesus.

Ações de graça são exercícios de nossa fé e nos preparam para os milagres divinos. Uma atitude grata a Deus é parte do fruto do Espírito e, portanto, sinal da presença desta Pessoa da Trindade na vida do crente: “dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5:20. NVI).

Agradecer a Deus, oferecendo-lhe ações de graça, é a representação de que o cristão entendeu a vontade de Deus para a sua vida e está em contato direto com o Espírito Santo de Deus. Se o coração do crente foi preenchido com a verdade bíblica, sua boca facilmente irá proferir palavras gratas a Deus (Mateus 12:34).

Devemos permitir que Deus, através de Seu Espírito, prepare o nosso coração para as coisas espirituais e agradecer quando isso acontecer. Devemos entrar na presença do Senhor com ações de graça (Salmo 100:4-5). Suplica e gratidão devem preceder tudo o que fazemos (Filipenses 4:6-7).

Ao caminhar na leitura destes textos bíblicos, podemos perceber que um espírito grato a Deus é condição para o exercício da fé. É impossível obter as bênçãos de Deus sem crer nEle (Hebreus 11:6). É impossível a felicidade cristã, sem aceitar que Ele é o provedor de tudo (Hebreus 1:3). É impossível oferecer a Ele os créditos de nossa felicidade, se não adotamos uma postura de sinceridade e gratidão. Ações de graça fortalecem a fé, na medida em que representam o reconhecimento da onipotência e onisciência de Deus pelo homem caído.

Quando começamos a ser gratos, enumerar o que Deus tem feito, não demora muito para que o nosso coração se encha de alegria pela infinitude de possibilidades existentes nos planos divinos para a vida daquele que crê. Dar testemunho do que Deus tem feito irrita Satanás. Paulo fez isso e, ao reconhecer sua pecaminosidade e a grandiosidade divina, foi perseguido por motivo de sua fé.

As orações de Paulo começavam com ações de graça e reconhecimento da grandeza divina:

  • Romanos 1:8 (NVI) – “dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”;
  • Efésios 1:16 (NVI) – não deixo de dar graças por vocês, mencionando-os em minhas orações” ;
  • Filipenses 1:3 (NVI) – “Agradeço a meu Deus toda vez que me lembro de vocês”;
  • I Tessalonicenses 1:2 (NVI) – “Sempre damos graças a Deus por todos vocês, mencionando-os em nossas orações”;
  • II Timóteo 1:3 (NVI) – “Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas orações”.

Gratidão para com os feitos do Senhor em nossa vida está intimamente ligado com uma postura diária de contrição e oração. Paulo era grato para com Deus e orava sem cessar.

Um exemplo sobremodo importante de um homem que demonstrou atitude de gratidão a Deus por Seus feitos grandiosos foi Seu Filho, Cristo Jesus:

João 6:11 (NVI) – “Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes”.

Justamente por possuir a missão da salvação do mundo em Seus ombros, Jesus precisava da presença constante do Pai do Céu. Em cada ato de Seu ministério na terra, Jesus manteve contato com Deus. Neste milagre de bênção e multiplicação (uma metáfora da benção e multiplicação que Ele empreende em nossas vidas mortificadas pelo pecado), Jesus agradece a Deus pela abundancia de pão, que viria logo a seguir.

Além deste relato, ainda podemos constatar a postura de constante gratidão de nosso Senhor Jesus Cristo nos seguintes textos:Mateus 15:36; 26:27; Marcos 8:6-7; 14:23; Lucas 9:16; 22:17, 19; 24:30.

É interessante notar que, no grande milagre da ressurreição de Lázaro, Cristo não pede pelo milagre em si, mas a Sua oração é simplesmente uma expressão de confiança e gratidão no amor, cuidado e direção do Pai: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste.” (João 11:41-42 (NVI))

Uma postura grata, portanto, reconhece que Deus está no controle e é o primeiro passo para que Seu poder possa ser exaltado e glorificado. É o primeiro passo para uma atitude de louvor, como veremos a seguir.

II. O Significado e o Propósito do “Louvor”.

Louvor, em seu significado primário, não se refere diretamente ao louvor a Deus.

O dicionário Aurélio lista os seguintes significados para o termo: 1.V. louvação. 2.Elogio, gabo, encômio. 3.Glorificação, exaltação.

O conhecido dicionário online Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx) fornece a seguinte definição: s. m., ato de louvar; elogio; apologia; glorificação.

Vemos assim que, o louvor é, simplesmente, o ato de maior elogio ou elevação que se pode fazer. E, evidentemente, um elogio pode ser aplicado a coisas e pessoas que tenham méritos para isso.

Porém, o que nos interessa aqui é o louvor a Deus. Afinal, se podemos elogiar a coisas e pessoas, quanto mais ao grande Deus que criou todas as coisas e pessoas! Assim, o louvor dirigido a Deus é o significado que estaremos analisando a seguir.

Tendo feito este destaque, entendemos o significado do louvor como sendo:

  • Feitos de Deus reconhecidos pela voz e atitudes humanas;
  • Atitude de exaltação e glorificação de Deus pelo homem;
  • Elogio extremo a Deus, oferecido pelo ser humano caído e, portanto, imperfeito.

Destacamos ainda as seguintes características do verdadeiro louvor a Deus:

Os Salmos de Davi são exemplos máximos de louvor a Deus:

Em alguns de seus salmos, denominados descritivos, Davi exalta a pessoa de Deus, Seus atributos, ou seja: expressa em palavras a sua visão da Divindade. Em outros, conhecidos como “declarativos”, Davi no oferece algumas características do que poderíamos definir como “Louvor Bíblico”, uma vez que nestes salmos, a ênfase é no que Deus fez para Seu povo. estes salmos declaram, de forma artística e poética, a majestade e a glória de Deus.

Através destes salmos descobrimos que:

  • Não pode existir um louvor verdadeiro sem um relacionamento íntimo com Deus, assim como um relacionamento com Deus não pode existir sem louvor. O louvor a Deus requer uma vida de envolvimento com Ele;
  • Não há uma maneira impessoal de expressar louvor ao Todo Poderoso. O louvor sempre é pessoal – apesar e poder ser realizado coletivamente. Ninguém pode expressar o louvor de outro. Cada um tem suas próprias experiências com Deus, pelas quais deve agradecer e expressar o seu louvor;
  • Louvor significa “falar bem de”, “exaltar”, ou “magnificar as virtudes”. Nos Salmos, esses significados da palavra louvor são direcionados a Deus, principalmente levando em conta Suas obras e Seu cuidado pelo Seu povo;
  • Apesar do costume musical de nossas igrejas, o louvor não precisa necessariamente ser audível, pode surgir de um coração contrito pela grandiosidade de Deus e, portanto, manifestar-se em silêncio, na particularidade do agente do louvor;
  • Louvor também acontece quando nós falamos para alguém sobre a bondade de Deus. Portanto, o testemunho é uma forma de louvor.

A melhor forma de entendermos, de forma mais abrangente e completa, o que significa louvar é, examinarmos as palavras traduzidas como “louvor” no Velho Testamento e, particularmente, no livro de Salmos.

Nos Salmos encontramos todas as expressões que um homem pode sentir em relação a Deus: Alegria, gratidão, confiança, tristeza, desânimo, regozijo, alívio, conforto, livramento, etc. Sendo o louvor uma expressão de vários desses sentimentos (especialmente os positivos), esta coleção poética torna-se, portanto, uma das bases para a teologia do louvor bíblico.

O livro de Salmos é um livro de música. A palavra hebraica para Salmos é tehilim, um termo usado em contextos musicais. Desta forma, assim como Davi, podemos expressar nosso reconhecimento da grandiosidade de Deus e de seus atributos, através de cânticos, mesmo que isso não seja obrigatório.

O Louvor Bíblico:[3]

1. Halal (“louve ao Senhor”; “Louve Yaehovah“; glorificar):

Salmo 22:23 (NVI) – “Louvem-no, vocês que temem o Senhor! Glorifiquem-no, todos vocês, descendentes de Jacó! Tremam diante dele, todos vocês, descendentes de Israel!”.

A palavra denota a exaltação pelo homem da pessoa do Senhor (Yaehovah). Neste sentido, ao fazer uso da expressão halal, o salmista tem a intenção de glorificar o Senhor, trazendo à tona a Sua magnitude. Halal significa, portanto, “vangloriar”, “glorificar”, “exaltar”, “fazer brilhar”.

A essência da expressão halal, portanto, é a exaltação do Senhor, permitindo-Lhe usar o ser humano que O louva como um instrumento de glorificação do Seu nome. Ao louvar a Deus com esta expressão, o pecador revela que adora a gigantesca Luz do mundo.

Esta palavra também é usada em II Crônicas 20:19 (NVI): “Então os levitas descendentes dos coatitas e dos coreítas levantaram-se e louvaram o SENHOR, o Deus de Israel, em alta voz”.

O contexto deste texto descreve a batalha do povo de Deus contra a aliança dos moabitas e amonitas. Nesta batalha, liderada por Jeosafá, Deus prometeu a vitória. Jeosafá enviou então um coro de levitas, conforme descrito no texto, para exaltar ao Senhor por esta vitória, antes mesmo da batalha começar! Nem é preciso dizer o efeito que a exaltação da Luz de Israel fez aos inimigos! Destruição total daqueles que investiram contra os filhos do Altíssimo!

2. Yadah (atirar, lançar, jogar):

Salmo 138:1 (NVI) – “Eu te louvarei, Senhor, de todo o coração; diante dos deuses cantarei louvores a ti”.

Em uma tradução mais fiel da expressão: “eu te louvarei”, leríamos: “Eu te lançarei agradecimentos e grandes elogios”. A expressão yadah, portanto, tem um sentido de atirar, jogar, lançar publicamente a Deus palavras de reconhecimento, ou seja: louvá-lO, com grande vigor e ênfase.

Esta palavra expressa o verdadeiro significado de louvor. Isto é: lançar, em testemunho público (diante dos seres humanos e de quaisquer outros deuses), agradecimentos e louvores ao Altíssimo.[4]

Para que o homem caído consiga lançar elogios extremos ao Senhor, é necessário que ele reconheça a grandeza de seu Deus, Seus atributos e realizações. A expressão yadah, portanto, é utilizada por um crente conhecedor das características divinas e que, por isso, é capaz de elogiar enfaticamente a beleza do Deus em que crê.

3. Barak (bendizer):

Salmo 103:1-2 (NVI) – “Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser! Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos!”

Bendizemos ao Senhor quando não nos esquecemos dEle, e quando não nos esquecemos de Suas bênçãos. O Salmo 103 enumera para nós incontáveis bênçãos do Senhor (por sua magnitude): amor, satisfação, redenção, honra, renovação. Nós bendizemos ao Senhor, lembrando de todas essas coisas.

Buscando o significado etimológico da palavra “bendizer” no idioma português, vemos que ela vem da junção das palavras “bem” e “dizer”, ou seja, “falar bem”. Portanto, vemos mais uma vez o sentido de “elogio”, “glorificação”.

Existe um sentido de ajoelhar-se e bendizer ao Senhor, em um ato de adoração, na palavra barak. Outro significado da palavrabarak é, justamente, ajoelhar-se e adorar. Ao utilizar a expressão barak, o salmista mais do que lembra das maravilhas realizadas pelo Senhor, mas se coloca em uma atitude de humilhação perante Ele.

É este o louvor mais próximo da profundidade exigida na adoração: humilhação do pecador e reconhecimento da grandiosidade do Senhor Deus do universo.

4. Zamar: (cantar louvores; fazer música):

Este é um dos verbos musicais de louvor usado em Salmos. Ele traz a idéia de fazer música de louvor para Deus como no Salmo 92:1 (NVI): “Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo”.

A música tem o poder de transmitir sentimentos e conceitos profundos, de forma mais eficiente e duradoura. Assim, é perfeitamente apropriada para e expressão do louvor a Deus.

Mesmo que a música tenha sido uma expressão de louvor abundante na história do povo de Deus do Velho Testamento, como percebemos até aqui, ela não é a única forma de expressar louvores e, sim, apenas mais um elemento que pode ser utilizado pelo pecador no momento em que se dirige ao Altíssimo.

5. Shabach (suave, quase sem som, forte, com honra e respeito):

Salmo 117:1 (NVI) – “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o (shabach) todos os povos”.

Salmo 63:3 (NVI) – “O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus lábios te exaltarão (shabach)”.

Salmo 65:7 – “Tu que acalmas (shabach) o bramido dos mares, o bramido de suas ondas, e o tumulto das nações”

A exaltação sonora destes salmos é quase silenciosa, suave e, ao mesmo tempo, firme e reverente. O conceito de força, apresentado na definição acima, refere-se à intensidade do sentimento ou conceito que está sendo expresso.

A expressão shabach representa, portanto, um louvor suave, sem contudo desmerecer a força e grandiosidade das obras divinas. Deste modo, louvar não é apenas uma expressão musical potente elevada a Deus, mas também respeito e suavidade, reverência e silêncio, firmeza e reconhecimento da grandiosidade de Deus e pequeneza do homem caído.

6. Towdah (confissão, ação de graças, sacrifício):

Salmo 50:23 (NVI) – “Quem me oferece sua gratidão como sacrifício (towdah), honra-me, e eu mostrarei a salvação de Deus ao que anda nos meus caminhos”.

A expressão towdah está relacionada com a palavra yadah. Em algumas versões da Bíblia também é ser traduzido como “ação de graça”. É usada no livro de Salmos como uma expressão que reconhece as bênçãos divinas que ainda não aconteceram, mas que certamente acontecerão.

A palavra de louvor towdah tem a conotação de gratidão a Deus por bênçãos que acontecerão no futuro. Quem espera, portanto, coloca-se em atitude de sacrifício vivo ao Senhor.

Esta palavra está especialmente relacionada ao sistema sacrifical levítico. Ela denota o louvor e gratidão ao Deus amoroso que proveu um plano para a salvação do homem caído, fornecendo um escape para os nossos pecados. O judeu, ao expressar este tipo de louvor, colocava confiantemente todas as suas esperanças de salvação na morte futura do “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”, para o qual o sistema sacrifical apontava.

Embora para nós o evento da morte de Cristo na cruz já esteja no passado, esta palavra nos relembra que a maioria dos seres humanos louva ou agradece a Deus baseada em fatos consolidados, no que já aconteceu. O sacrifício de louvor, expresso na palavra towdah, é uma declaração forte de quem se coloca nas mãos do Altíssimo independentemente das circunstâncias. A expressão towdah denota uma atitude de fé e confiança no Senhor.

O Salmo 50:23 é finalizado com uma promessa: aquele que oferece a sua vida em sacrifício de louvor ao Senhor e o louva sem ver a bênção (que ainda não aconteceu), receberá a vida eterna.

7. Tëhillah (canção ou hino de louvor, louvor público, louvor que reconhece os atributos de Deus):

Salmo 22:3 (NVI) – “Tu, porém, és o Santo, és rei, és o louvor (tëhillah) de Israel”.

Tëhillah é uma das expressões de louvor que mais me emocionam na Palavra do Senhor. Nesta tradução da Nova Versão Internacional, Deus encerra nEle mesmo o louvor de Seu povo. Ele É o louvor, ao invés de ser mero receptor dos elogios humanos.

Se tomarmos em consideração que a expressão tëhillah significa “hino de louvor”, poderíamos ler o salmo da seguinte maneira: “Tu, Senhor, é o cântico de Israel”. A beleza desta constatação deveria transformar o coração do crente! O Altíssimo é o nosso cântico, nossa música, nosso louvor.

Através da expressão tëhillah, Deus Se manifesta como um cântico exuberante:

II Crônicas 20:22 (NVI) – “Quando começaram a cantar e a entoar louvores (tëhillah), o SENHOR preparou emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e dos montes de Seir, que estavam invadindo Judá, e eles foram derrotados”.

Israel começou a cantar e louvar, Deus preparou emboscadas para o inimigo. Quando Deus se manifesta musicalmente, derruba as fronteiras do inimigo. Quão sério é este assunto no contexto musical atual!

Tëhillah é um tipo especial de cântico! É quando Deus se torna o próprio louvor de Seu povo, o próprio cântico de Israel.

Outros versos bíblicos em que tëhillah aparece:

Salmo 34:1 (NVI) – “Bendirei o Senhor o tempo todo! Os meus lábios sempre o louvarão (tëhillah)”.

Salmo 40:3 (NVI) – “Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor (tëhillah) ao nosso Deus. Muitos verão isso e temerão, e confiarão no Senhor”.

Aqui, o próprio Deus é colocado na boca do crente, como a brasa viva, de Isaías 6. O pecador é transformado pelo Altíssimo e O exalta de forma bela e extraordinária, a ponto de ser percebido por muitos!

Salmo 66:2 (NVI) – “Cantem louvores (zamar) ao seu glorioso nome; louvem-no (tëhilla) gloriosamente!”.

8. Ruwa`: (falar alto, proclamar, erguer a voz).

Salmo 95:1 (NVI) – “Venham! Cantemos (ruwa`) ao Senhor com alegria! Aclamemos a Rocha da nossa salvação”.

Os crentes do Velho Testamento não tinham problemas em ficar realmente alegres por motivo de seu relacionamento com Deus, demonstrando sua alegria em voz alta, de forma audível, com expressões de gozo e júbilo.

Evidentemente, uma vez que se dirigiam a Deus, essas expressões eram sempre reverentes, nunca comparáveis ou passíveis de ser confundidas com a alegria mundana e profana, ou seja, a expressão da alegria não afastava o solene senso da presença de Deus. Pelo contrário, a alegria era exatamente causada por esta compreensão.

Salmo 100:1 (NVI) – “Aclamem (ruwa`) o Senhor todos os habitantes da terra!”.

A relação com a rocha, no Salmo 95, e com a aclamação, no Salmo 100, demonstra a força expressiva de ruwa`. Não é um louvor qualquer, mas sim um louvor tão resistente quanto a rocha e tão impactante quanto a proclamação do nome de Deus por todos os habitantes da terra. Existe força massiva neste verbo de louvor.

9. Qara`: (proclamar, anunciar o nome do Senhor)

Salmo 116:17 (NVI) – “Oferecerei a ti um sacrifício de gratidão e invocarei (qara`) o nome do Senhor”.

Um aspecto importante da expressão qara` é sua sonoridade. Denota, ao mesmo tempo, a proclamação audível do nome do Senhor e a Sua invocação pelo agente do louvor. Esta palavra poderia ser utilizada também em um contexto em que alguém lê trechos das Escrituras, invocando o nome do Senhor através desta leitura. Deste modo, o louvor qara`, acontece quando o crente reconhece a Deus e o proclama, para que todos fiquem sabendo quem é esse Deus.

Assim, após essa longa reflexão em torno dos textos dos salmos, percebemos que existem inúmeras expressões que são traduzidas como louvor na Palavra do Senhor. Isto deveria nos trazer a noção de que o assunto não é algo a ser banalizado em nossa comunidade religiosa. Não são os cânticos de nossa rotina cristã o mesmo que louvar a Deus. Louvar a Deus tem uma força e um significado de suma importância na Bíblia e é assim que devemos encarar o assunto.

Louvar tem uma conotação mais profunda, íntima e pessoal do que simplesmente cantar. Louvar significa reconhecer a Deus em Suas características magníficas e expressar isso de infinitas formas possíveis. Inclusive, como nos sugere a expressão shabach, louvar deveria significar que o crente entende tão bem a grandiosidade do Altíssimo, que se cala diante dEle, com respeito e submissão do eu.

Todavia, louvar não é o mesmo que adorar, como veremos a seguir.

III. O Significado e Propósito da Adoração

Diferentemente do louvor, a adoração não é um elogio exaltado, sim uma expressão de veneração, de reconhecimento de que algo ou alguém é superior e digno de receber culto.

Adoração é uma reação ativa a Deus, pela qual declaramos a sua dignidade. A adoração não é passiva, mas sim participativa. Adoração não é simplesmente um clima; é uma reação. Adoração não é apenas uma sensação; é uma declaração.” (Allen/Borror, Teologia da Adoração – pág. 16 – (ênfase no original))

Para podermos adorar verdadeiramente a Deus, portanto, é necessário que o agente da adoração conheça ao Deus, a quem o culto será prestado, de forma íntima, pois irá oferecer este Deus um culto, uma reverência extrema e única.

Seguindo este raciocínio, no contexto da adoração verdadeira (aquela oferecida de modo correto, ao único Deus verdadeiro, o Altíssimo de Israel), nossa mente deve estar voltada para os principais atributos divinos: Santidade, Bondade, Amor, Pureza, Beleza, Eternidade, Onisciência, Onipotência, Onipresença, etc.

O texto de Isaías 6:1-8 é um texto básico para a compreensão da dinâmica da adoração:

  • (versos 1-4) – Visão da majestade divina (comunhão profunda);
  • (verso 5) – Visão da própria finitude e pecaminosidade, e confissão dos pecados (reconhecimento da grandeza divina e da pequeneza humana);
  • (versos 6-7) – Recebimento de perdão (ou render-se à divindade) e transformação interior (ação do Espírito Santo);
  • (verso 8) – Consagração e disposição para o serviço (adoração ativa e frutífera).

A adoração acontece quando o homem caído se encontra com a plenitude divina, reconhecendo ser, ele mesmo, um ser pequeno, frágil e estéril. Quando isso acontece, temos os elementos essenciais para que uma adoração verdadeira se faça presente: reconhecimento da grandeza divina e da pequeneza humana.

Ao reconhecer sua pequeneza, o homem se prostra diante o Criador. Este ato não é um ritual, não obedece a regras e técnicas pré-estabelecidas. É uma conseqüência, ou resultado, deste reconhecimento. Um exemplo deste reconhecimento pode ser encontrado em Isaías 6:5; após contemplar a glória e a majestade do trono divino, a reação do profeta é: Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (NVI)

A atitude característica da adoração se manifesta em um conjunto de ações em que o ser humano exalta a Deus através de sua própria humilhação: prostra-se, reverencia, ajoelha-se, suplica por misericórdia:

Levítico 9:24 (NVI) – “Saiu fogo da presença do SENHOR e consumiu o holocausto e as porções de gordura sobre o altar. E, quando todo o povo viu isso, gritou de alegria e prostrou-se, rosto em terra”.

No contexto do Novo Testamento, encontramos um significado para a adoração que se assemelha ao que vimos até aqui. Acompanhe os textos abaixo:

Mateus 8:2 – “E eis que veio um leproso e o adorava, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.”

Mateus 9:18 – “Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá.”

Mateus 14:33 – “Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus.”

Mateus 15:25 – “Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me.”

Mateus 28:17 – “E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.

Em todos estes versos, encontramos dois aspectos em comum, relacionados à adoração.

O primeiro diz respeito à palavra que é traduzida por “adoração”, nos versos citados. A expressão em grego usada é proskyneo(ou proskuneo), que pode receber a tradução de “beijar as mãos de alguém”; “jogar beijos para alguém”; “encostar a cabeça no chão em sinal de profunda reverência”; “prostrar-se aos pés de alguém com a intenção de expressar respeito ou para fazer uma súplica” (significados muito semelhantes ao encontrado no velho testamento, em Levítico 9:24).

Esta palavra era utilizada para descrever o ato que ocorria quando alguém reconhecidamente muito superior (social ou hierarquicamente) chegava a algum lugar. A pessoa que recebia esta figura importante curvava-se até o chão com o intuito de beijar-lhe os pés, em sinal público de submissão e reconhecimento da alta autoridade da pessoa que acabara de chegar. Neste sentido, adorar (proskyneo), é uma ação humana movida pelo desejo de beijar a Deus, ou a Jesus, através de uma profunda reverência.

Uma das expressões mais belas desta interpretação da palavra “adoração” está na ação da mulher que lavou os pés de Jesus na casa de Simão (Mateus 26:6-13; Marcos 14:1-11; João 12:12-15). Em uma atitude de adoração, a mulher lava os pés de Jesus e, literalmente, os beija. Os dois passos essenciais para que aconteça a adoração verdadeira foram trilhados: ela se prostrou diante Jesus, reconheceu Sua grandiosidade e suplicou por perdão, reconhecendo também sua pequeneza em relação ao Salvador.

O segundo aspecto que relaciona os versos de Mateus, citados acima, é que todos os exemplos de adoração listados ali reconhecem a Jesus como alguém especial. Não apenas alguém que pode lhes prestar favores e resolver seus problemas imediatos, mas alguém investido de todo o poder e “autoridade nos céus e na terra” (Mateus 28:18). Assim, todos os que apareceram e adoraram a Jesus naqueles versos possuem FÉ nEle como o Salvador.

Portanto, um aspecto essencial da adoração verdadeira é a FÉ, pois “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dEle se aproxima precisa crer que Ele existe e que recompensa aqueles que O buscam” (Hebreus 11:6, NVI). Se não temos fé em Jesus, significa que não cremos nEle como nosso Salvador e Redentor. Se não reconhecemos em Jesus tais características, não podemos adorá-lO.

Todavia, não basta a crença em Deus ou em Jesus para que a adoração verdadeira aconteça. É necessário que o crente, além de crer (possuir fé), conheça a disposição de seguir a vontade divina para a sua vida. (Mateus 19:17; João 14:15, 21; 15:10; I João 1:23; 2:4; 3:22; 5:2-3; Apocalipse 12:7; 14:12)

Este é justamente o ponto mais problemático da religião, pois o homem caído, naturalmente, não deseja adorar ao Senhor, pois não deseja servir a Ele e seguir Suas ordenanças.

Mas se não desejamos servir a Deus, pois nosso coração pecaminoso tem tendências para o erro, como iremos adorá-lO? A Bíblia tem a resposta:

“Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Filipenses 2:13, NVI).

“Não podeis mudar vosso coração, não podeis por vós mesmos consagrar a Deus as vossas afeições; mas podeis escolher servi-Lo. Podeis dar-Lhe a vossa vontade; Ele então operará em vós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade. Desse modo toda a vossa natureza será levada sob o domínio do Espírito de Cristo.” [5]

E se a nossa natureza humana pecaminosa (Jeremias 17:9) é levada sob o domínio do Espírito de Cristo, Deus operará em nós o milagre de desejarmos servi-lO, em Sua Santa vontade. E, é claro, para servir ao Senhor Deus em Sua vontade, precisamos conhecê-la. E não há outro modo de conhecer a verdade que nos libertará (João 8:32), senão através da leitura dedicada da Palavra (a Bíblia), oração e entrega do coração ao Altíssimo.

“Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos”, declara o Senhor. “Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos”. (Isaías 55:8 e 9, NVI).

Partindo deste raciocínio, para aqueles que desejam a salvação em Cristo Jesus, a adoração verdadeira é um imperativo, não uma opção:

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (João 4:23 e 24, NVI)

A Bíblia destaca de modo enfático o modo pelo qual Deus procura ser adorado. “Em espírito e em Verdade”. O texto ainda diz que o Pai está à procura de pessoas que estejam dispostas a oferecer este tipo de adoração a Ele, através de uma vida consagrada ao Espírito Santo e, portanto, guiada por Ele. E por meio de uma vida que, além de procurar a Verdade revelada, atua de acordo com ela, em sinceridade para com o que encontra.

O verdadeiro adorador é aquele que não se limita ao “mais confortável” ou “mais agradável” ou “mais de acordo com o meu gosto”, porém procura incessantemente a vontade do Pai. O verdadeiro adorador, aquele guiado pelo Espírito, pergunta a si mesmo o tempo todo: “Qual a vontade do Pai?”; “Estou de acordo com a verdade?”.

A adoração em Espírito e em Verdade é um imperativo, portanto, porque é esse tipo de adoração que Deus deseja. Mais do que isto: Deus procura! E se Deus está a procura de adoradores, significa que eu e você podemos ser encontrados a qualquer momento, basta que respondamos ao chamado do Altíssimo! Estamos dispostos? Entregaremos o nosso coração para a transformação necessária para a nossa salvação?

Que a nossa resposta para tais inquietações seja como a do salmista:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno.” – Salmo 139:23 e 24, NVI.


Notas:

[1] O presente artigo foi escrito tomando como base estrutural outro artigo de mesmo título, de autoria de Miguel Levy. Originalmente o artigo citado havia sido publicado em: orbita.starmedia.com/~praiser/sl_ml_estudos.htm, mas, aparentemente, o endereço saiu do ar.

Aproveitamos esta nota para agradecer imensamente às contribuições de Levi de Paula Tavares na revisão do presente artigo. Este nosso amigo, mais uma vez, demonstrou sabedoria e guia vindas do Altíssimo.

[2] Alguns itens destas definições acerca do louvor (assim como algumas reflexões posteriores, localizadas na seção do presente artigo relacionada à adoração) foram retirados do texto “Adoração – O Presente do Homem para Deus”, de Levi de Paula Tavares, disponível no Música Sacra e Adoração.

[3] As traduções bíblicas apresentadas em todo este artigo foram retiradas da concordância apresentada pelo sitehttp://blueletterbible.org/index.html (em inglês, com tradução livre do autor deste artigo).

[4] Para alguns leitores e denominações religiosas, a expressão yadah justifica o bater palmas ou exercer cultos com as mãos levantadas. Destacamos que não há nenhum relato explícito na Bíblia que nos aprove ou desaprove tais atos nos momentos de louvor, todavia pensamos ser precipitada a conclusão de que simplesmente a expressão bíblica “lançar louvores” (yadah) possa justificar teologicamente qualquer forma de expressão corporal. A palavra indica o ato humano de atirar para Deus palavras de agradecimento, nada mais do que isso.

[5] White, Ellen G. Caminho a Cristo. P. 47.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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