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Este capítulo está repleto de simbolismo, o que à primeira vista, pareça difícil de se compreender. Entretanto, com as conexões retóricas e as interpretações de simbolismos dos capítulos anteriores, é mais fácil entender a mensagem: O Senhor levantará o estardarte do evangelho, enviará mensageiros de terras distantes para seu povo disperso, e reuni-lo-á no monte Sião.

Os versículos 1 e 2 não são um oráculo de pesar, embora pareça ser. A palavra “ai” aqui foi traduzida da palavra hebraica  howy, que é uma forma de saudação.[1] Seria equivalente ao “oi” em português.

No versículo 1, Isaías descreve uma terra distante: “Ai [ou, oi] da terra que ensombreia com as suas asas, que está além dos rios da Etiópia”. “Etiópia” é traduzida da palavra hebraica Cuse, uma terra que fica ao sul do Egito. A terra de Cuse tem o mesmo nome do filho de Cão e neto de Noah, cujo nome significa “preto”.[2], [3] É obvio que aqui Isaías quis dizer simplesmente uma terra distante. “Que ensombreia com as suas asas” talvez refira-se a uma terra protegida pelo Senhor, figurativamente, coberta por Suas asas. Outra possibilidade é que significa asas de pássaros ou de avião, ou talvez descrevem o formato do mapa dos continentes Norte e Sul Americanos.[4] A terra distante está além dos “rios”, ou do corpo de água.

Por que será que Isaías usou “Cuse”, ao invés de ser mais claro em sua descrição? Considere a declaração de Leí a respeito da terra da promissão que ele obteve do Senhor: “E eis que é prudente que esta terra não chegue ainda ao conhecimento de outras nações; pois eis que muitas nações ocupariam totalmente a terra, de modo que não haveria lugar para uma herança”.[5]

No versículo 2, a identidade desta terra distante torna-se evidente: “Que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas, dizendo: Ide, mensageiros velozes, a um povo de elevada estatura e de pele lisa; a um povo terrível desde o seu princípio; a uma nação forte e esmagadora, cuja terra os rios dividem”. “Rios”, como foi usado aqui, é uma metáfora para exércitos invasores—especialmente, os da Assíria e da Babilônia. A tradução da Bíblia Reina-Valera 2009, em espanhol, diz: “…a uma nação dispersa desolada…”.

Os versículos 1 e 2 contêm um quiasma:

A: (1) Ai[oi] da terra que ensombreia com as suas asas, que está além dos rios da Etiópia. (2) Que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas, dizendo:
B: Ide, mensageiros velozes, a um povo de elevada estatura e de pele lisa [a uma nação dispersa desolada];
C: a um povo
C: terrível desde o seu princípio,
B: a uma nação forte e esmagadora,
A: cuja terra os rios dividem.

“Rios da Etiópia” contrasta-se com “cuja terra os rios dividem”. Na primeira frase “rios” significa corpos de água, já na segunda frase “rios” significa exércitos invasores. “Um povo de elevada estatura e de pele lisa [uma nação dispersa desolada]” é equivalente a “uma nação forte e esmagadora”. Isto denota o potencial de Israel de tornar-se uma nação forte e esmagadora ao purificar-se e renovar seus convênios com Deus. “Povo” complementa “terrível desde o seu princípio”, para formar o enfoque do quiasma.

Três elementos no versículo 2 merecem mais explicação: primeiro, a terra distante envia embaixadores; depois, estes embaixadores viajam em navios de junco sobre as águas; e terceiro, eles levam uma mensagem para uma nação dividida, uma nação com o potencial de tornar-se forte e esmagadora.

Qual outra nação, além dos Estados Unidos, envia embaixadores aos remanescentes de Israel que estão dispersos? Primeiramente, eles viajavam de navios; porém hoje em dia, eles geralmente viajam de avião—referido como “asas” no versículo 1. Este lugar seria o mesmo onde o estandarte seria levantado para todas as nações, mencionado anteriormente por Isaías no capítulo 5,[6] e no versículo 3 abaixo.

Qual é o significado de “navios de junco”? Existe somente alguns lugares no mundo onde barcos são feitos de junco: um é o Egito; o outro é o Lago Titicaca, nas fronteiras entre Peru e Bolivia. O estilo destes barcos de junco, em ambos locais, é surpreendentemente semelhante, sugerindo—para a consternação dos antropólogos, que não conseguem explicar isto—uma origem em comum.

Esta referência aos barcos de junco por Isaías não é literal; “embaixadores” modernos (missionários) não viajam pelo Oceano Atlântico em navios de junco. Mas isto é um indício cultural: a tribo de José, dividida em duas entre seus dois filhos, Efraim e Manassés,[7] exibiu a cultura egípcia—incluindo as línguas faladas e escritas—bem depois que as doze tribos estabeleceram-se na Terra Prometida. Estas escrituras foram escritas em egípcio, em placas de latão, que mais tarde serviram como modelo para as escrituras dos nefita. Mórmon atesta:

“Porque não teria sido possível a nosso pai, Leí, lembrar-se de todas estas coisas para ensiná-las a seus filhos, se não fosse pelo auxílio destas placas; pois tendo ele sido instruído no idioma dos egípcios podia, portanto, ler estas gravações e ensiná-las a seus filhos, para que assim eles pudessem ensiná-las a seus filhos…”.[8]

Quando os irmãos de José, buscando trigo no Egito, veio diante dele depois que José foi promovido a uma posição alta no governo de Faraó, ele fingiu não entender a língua hebraica que estavam falando, e falou com eles através de um intérprete.[9] Seus descendentes, por muitas gerações, continuaram a usar o egípcio como sua língua materna, apesar de falarem o hebraico com sotaque. Os efraimitas eram facilmente distinguidos por sua inabilidade de pronunciar a palavra hebraica  shibboleth.[10] Os nefitas, que eram descendentes de José, continuaram a usar uma forma do egípcio, mesmo depois de milhares de anos, para escreverem as escrituras.[11] Os missionários, que saírem para recolher Israel nos últimos dias, serão, em sua maioria, membros da tribo de José. Eles levam com eles O Livro de Mórmon—um relato dos remanescentes da tribo de José, traduzido dos textos escritos no egípcio reformado.

Na última frase do versículo 2, “cuja terra os rios dividem”, “rios” simbolizam os exércitos invasores, como foi usado por Isaías anteriormente no capítulo 8.[12]

O versículo 3 apresenta uma advertência: “Vós, todos os habitantes do mundo, e vós os moradores da terra, quando se arvorar a bandeira nos montes, o vereis; e quando se tocar a trombeta, o ouvireis”. O Senhor arvorará a bandeira,  versículo 4; “montes” significa “nações”.[13]

O versículo 3 contém um quiasma:

A: (3) Vós, todos os habitantes do mundo, e vós os moradores da terra
B: quando se arvorar a bandeira
C: nos montes,
C:  o vereis;
B: e quando se tocar a trombeta,
A: o ouvireis.

O Senhor adverte os habitantes das nações do mundo para verem e ouvirem quando Ele levantar o estandarte ou bandeira e soar a trombeta, que significa a pregação do evangelho e a coligação de Israel nos últimos dias. O enfoque deste quiasma  é  “nos montes, o vereis”, que se refere às nações da terra.

Com respeito ao capítulo 18, Joseph Fielding Smith disse:

“Este capítulo é obviamente uma referência aos missionários sendo enviados às nações da Terra, para reunir novamente este povo, que está disperso por toda a Terra. O estandarte foi levantado nas montanhas, e a obra de coligação já está acontecendo há mais de cem anos. Ninguém compreende este capítulo, com exceção dos Santos dos Últimos Dias, e podemos ver como esta profecia está sendo cumprida.”[14]

Os versículos 4 e 5 descrevem o futuro daqueles que não deram ouvidos às advertências que foram transmitidas pelos embaçadores, simbolizado pelo estandarte (bandeira) e pela trombeta. O versículo 4 declara: “Porque assim me disse o Senhor: Estarei quieto, olhando desde a minha morada, como o ardor do sol resplandecente depois da chuva, como a nuvem do orvalho no calor da sega”. “Olhando desde a minha morada” significa que o Senhor estará observando do céu durante estes acontecimentos. Como o brilhante sol produzindo calor depois da chuva, e como um vapor de humidade no calor do verão, a ira do Senhor acumular-se-á contra aqueles que ignorarem Sua mensagem.

Continuando no versículo 5, a destruição é descrita simbolicamente: “Porque antes da sega, quando já o fruto está perfeito e, passada a flor, as uvas verdes amadurecerem, então, com foice podará os sarmentos e tirará os ramos e os lançará fora”. Antes da colheita, ou sega, dos dispersos de Israel terminar, o Senhor “podará os sarmentos e tirará os ramos e os lançará fora”, ou seja, aqueles que não ouvirem as advertências do Senhor serão eliminados. Néfi predisse este mesmo acontecimento, usando palavras semelhante à estas.[15] Esta poda é análoga à poda das parreiras de uvas antes do fruto está maduro, para remover galhos improdutivos e permitir espaço para as uvas crescerem.[16]

O versículo 6 declara: “Serão deixados juntos às aves dos montes e aos animais da terra; e sobre eles veranearão as aves de rapina, e todos os animais da terra invernarão sobre eles”.[17]Os corpos das pessoas que foram assassinadas—demasiado para serem enterrados—serão deixados como galhos podados para apodrecerem e decomporem–se no solo.

Em Doutrina e Convênios, o Senhor descreve o future dos iníquos em semelhantes, porém mais gráficos, termos:

“Portanto eu, o Senhor Deus, mandarei moscas sobre a face da Terra, as quais se apoderarão de seus habitantes, comer-lhes-ão a carne e farão com que neles se criem bicheiras;
“E a língua deles será refreada para que não falem contra mim; e sua carne desprender-se-á dos ossos e seus olhos cairão das órbitas;
“E acontecerá que as bestas da floresta e as aves do céu os devorarão.”[18]

O versículo 7 descreve o acontecimento culminante previsto: “Naquele tempo trará um presente ao Senhor dos Exércitos um povo de elevada estatura e de pele lisa, e um povo terrível desde o seu princípio; uma nação forte e esmagadora, cuja terra os rios dividem; ao lugar do nome do Senhor dos Exércitos, ao monte Sião”. O “monte Sião” é usado aqui com duplo sentido—um lugar de coligação espiritual nos últimos dias, bem como um sinônimo para a Jerusalém dos últimos dias.[19] O mesmo povo disperso, mencionado no versículo 2, será reunido em Sião, os frutos da obra dos mensageiros que saíram para juntá-lo. E lá eles serão dados ao Senhor como oferta.

NOTAS

[1]. F. Brown, S. Driver, e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [LéxicoHebraico e Inglês de Brown-Driver-Briggs]: Hendrickson Publishers, Peabody, MA, 01961-3473, 1996, Número de Strong 1945, p. 222.
[2]. Dicionário Bíblico—Cush (Cuse).
[3]. Brown et al., 1996, Número de Strong 3568, p. 468.
[4].  Donald W. Parry, Jay A. Parry e Tina M. Peterson, Understanding Isaiah [CompreendendoIsaías]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1998, p. 172.
[5]. 2 Néfi 1:8.
[6]. Ver Isaías 5:26.
[7]. Ver Gênesis 48:5-6.
[8]. Ver Mosias 1:4.
[9]. Ver Gênesis 42:23.
[10]. Ver Juízes 12:5-6.
[11]. Ver Mórmon 9:32.
[12]. Ver Isaías 8:7-8 e comentário pertinente.
[13]. Ver Isaías 2:2, 14 e 2 Néfi 12:2, 14; Isaías 11:9; 13:2, 4; 30:25 e comentário pertinente.
[14]. Joseph Fielding Smith, Signs of the Times [Sinais dos Tempos]: Deseret Book Co., Salt Lake City, Utah, 1974, p. 54-55.
[15]. Ver 1 Néfi 22:20-21.
[16]. Victor L. Ludlow, Isaiah: Prophet, Seer, and Poet [Isaías: Profeta, Vidente e Poeta]: Deseret Book Company, Salt Lake City, Utah, 1982, p. 208-209.
[17]. O versículo 6 contém um quiasma reconhecido no hebraico original: Veranearão/aves//animais/invernarão. Em Donald W. Parry,  Harmonizing Isaiah: Foundation for Ancient Research e Mormon Studies (FARMS) at Brigham Young University [A Harmonização de Isaías: Fundação de Pesquisas Antigas e Estudos Mórmons na Universidade Brigham Young], Provo, Utah, 2001, p. 259.
[18]. Doutrina e Convênios 29:18-20.
[19]. Ver Isaías 3:16; 24:23; 28:16; 29:8; 30:19; 31:4, 9; 51:3.

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