A PALAVRA DO DIA-A missão do Messias – v. 1-3.


A missão do Messias – v. 1-3.
• Is 61: 1-3: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados [NVI: ‘libertação das trevas aos prisioneiros’]; a apregoar o ano aceitável do Senhor [NVI: ‘para proclamar o ano da bondade do Senhor’] e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de luto [NVI: ‘e dar a todos os que choram em Sião’] uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória”.

O profeta Isaías fala em nome de Jesus, o único que recebeu toda essa capacitação do Pai.

Quando nós falamos sobre as características do Messias, algumas delas eram mais importantes, sendo que pessoas comuns personificavam aqui na terra o verdadeiro Messias por vir. As características eram: o Servo sofredor (algumas vezes representado pelo próprio profeta em sua árdua missão no meio daquele povo incrédulo) e o conquistador ungido (na figura de Ciro ou Davi), ou seja, de um rei que virá para governar sobre judeus e gentios, executando a vingança de Deus contra Seus inimigos, se vestindo com a armadura da salvação (Is 59: 16-21) e derrotando-os completamente, redimindo Seu povo. No capítulo 63: 1-6 esse conquistador messiânico é um homem entre os homens, mostrando igualmente as qualidades do rei e do Servo, com os mesmos dotes espirituais deles. Ele também se mostra como o conquistador de Edom, uma tarefa que foi realizada apenas através de Davi: Nm 24: 17-19 (a ‘estrela de Jacó’ diz respeito a Davi); 1 Cr 18: 11-12; 2 Sm 8: 13-14; Sl 60 (Quando lutou contra os siros da Mesopotâmia – 1 Cr 18: 3 – e os siros de Zobá, e quando Joabe regressou e derrotou doze mil edomitas no vale do Sal) cf. Sl 108: 6-13. Como vimos em outros capítulos de Isaías, o conquistador ungido pode ser prefigurado em Ciro ou em Davi.

Aqui em Is 61: 1-3 nós podemos ver outra característica do Messias, que é alguém dotado do Espírito e da Palavra. Jesus assumiu esta profecia, como está escrito em Lc 4: 18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que o Senhor me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor (NVI, ‘o ano da graça do Senhor’)”.

Então, Jesus, o Messias viria com a assistência do Espírito do Senhor, ou seja, ungido pelo Espírito de Deus a quem Ele chama ‘Senhor’, cf. Sl 110 e Mt 22: 44: “disse o Senhor ao meu Senhor (no Sl 110, esta palavra está escrita com letra minúscula, embora com o mesmo significado): Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés”. Sua missão seria pregar boas-novas aos pobres de espírito, que precisariam se fortalecer com a palavra de Deus, ou seja, o evangelho, cujo significado é ‘boas novas’ ou ‘boa mensagem’ (euaggelion, em grego, ευαγγελιον). Essa missão também envolvia: curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados [NVI: ‘libertação das trevas aos prisioneiros’]; a apregoar o ano aceitável do Senhor [NVI: ‘para proclamar o ano da bondade do Senhor’] e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de luto [NVI: ‘e dar a todos os que choram em Sião’] uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.

‘Os quebrantados de coração’ – refere-se aos que têm consciência do seu pecado e se sentem tocados por isso, ou seja, os que estão debaixo de um espírito de arrependimento e precisam do perdão de Deus para curar suas feridas interiores.

‘Proclamar libertação aos cativos’ – os que estão presos nas mentiras de Satanás por causa do pecado e que precisam conhecer a verdade para alcançar a libertação (Jo 8: 31-36). A boa nova trazida pelo Messias era que o cativeiro no pecado terminou, porque Jesus tinha chegado.

‘Pôr em liberdade os algemados [NVI: ‘libertação das trevas aos prisioneiros’]’ – o que inclui a libertação não apenas do cativeiro do pecado, como foi dito acima, mas a abertura do entendimento (‘abrir os olhos aos cegos’) daqueles que não sabiam que caminho seguir, pois o inimigo os cegavam com suas trevas de mentira, roubando deles a esperança na salvação e impedindo-os de se posicionar na terra em relação às decisões a serem tomadas na sua própria vida. A falta de entendimento em determinado assunto ou a falta de revelação de Deus onde precisamos é um cativeiro, e precisamos ser libertos dele. Da mesma forma que Oséias escreveu: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento” (Os 4: 6a), Isaías repete o mesmo pensamento em outras palavras: “Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento” (Is 5: 13a). Por isso, está escrito em Pv 11: 9: “O ímpio, com a boca, destrói o próximo, mas os justos são libertados pelo conhecimento” [NVI: ‘Com a boca o ímpio pretende destruir o próximo, mas pelo seu conhecimento o justo se livra’]. Isso diz respeito ao conhecimento que temos sobre a Sua vontade para nós através da Sua palavra, que nos dá o discernimento espiritual para seguirmos para um lado ou para o outro, escapando ilesos dos sofismas do inimigo. Também diz respeito ao conhecimento de nós mesmos, do quanto já estamos trabalhados pelo Senhor em uma determinada área da nossa vida, a fim de que possamos nos libertar das falsas acusações e das afrontas. Sabendo o que Deus tem para nós, estando conscientes do que Ele está fazendo em nosso favor não há o que possa nos enganar. Jesus veio para trazer esta clareza, pois o Seu Espírito dentro de nós ilumina nossas ações e nossos pensamentos.

‘Apregoar o ano aceitável do Senhor’ ou ‘o ano da bondade do Senhor’ – significando que Jesus viria para anunciar a eles uma nova dispensação, uma época (‘o ano’) onde Deus se mostraria favorável com o ser humano, desejando derramar Sua bondade sobre todos aqueles que quisessem a salvação (2 Co 6: 2) e a verdadeira libertação. Eles deixariam de ser propriedade de Satanás e voltariam a ser propriedade do Senhor, do seu Criador. Talvez possa ser feito um paralelo entre essa frase e o ano do jubileu em Israel, que ocorria a cada cinqüenta anos, quando os cativos eram libertos e as terras voltavam ao poder do seu antigo possuidor (Lv 25: 8-13; 28; 32).

‘O dia da vingança do nosso Deus’ – o dia que Deus escolheu para fazer o juízo definitivo sobre o mal, derrotando de uma vez por todas os inimigos do Seu povo, na Sua segunda vinda (2 Ts 1: 7-9; Ap 20: 10; 14-15).

‘A consolar todos os que choram’ – Jesus veio para trazer consolo aos que choram pelo seu afastamento de Deus por causa do pecado, pelas injustiças do mundo e pelo seu sofrimento devido às dificuldades naturais da vida. E o Seu consolo é algo palpável e presente, atual, não apenas uma promessa de consolação num futuro distante (na Nova Jerusalém espiritual – Mt 5: 4), como Jesus trouxe o consolo a Marta e a Maria pela morte de Lázaro, ressuscitando-o; trouxe o consolo a Jairo, pela morte de sua filhinha, ressuscitando-a; à viúva de Naim, pela morte do seu único filho, ressuscitando-o; trouxe o consolo à mulher pecadora que ungiu Seus pés, perdoando-a; à mulher Siro-Fenícia que estava desesperada por causa de sua filha endemoninhada, libertando a menina do demônio que atormentava; e tantos outros casos. Ele igualmente nos traz o consolo no momento em que não estamos mais agüentando a angústia e as opressões externas, quando nos sentimos urgentemente necessitados de um socorro financeiro ou quando estamos doentes e precisamos de ajuda. Ele usa, muitas vezes, corpos humanos como instrumento do Seu consolo. Nem sempre o consolo é uma palavra que aquieta os temores. Às vezes, o consolo precisa ser algo palpável, natural, físico, que vem para aquietar a alma aflita. As ressurreições de mortos realizadas por Jesus e citadas acima são um exemplo disso.

‘E a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória’ – essa promessa não só pode ser empregada como um consolo aos exilados que ainda choravam pela destruição de sua cidade ou que ainda esperavam a vinda do Messias para serem salvos e conhecer a verdade de Deus; é uma promessa para o povo do passado e para a igreja de hoje, a Sião espiritual de Deus, que chora e está de luto por algum tipo de perda: perda da fé, da esperança, da unção, perda da comunhão profunda com Deus, perda da liberdade de pregar livremente Sua palavra, pois foi impedida pelo inimigo. O Senhor promete remover as cinzas do luto e colocar na cabeça dos Seus guerreiros uma coroa de alegria, porque sempre há um escape, sempre há uma solução, sempre há um livramento. Ele vai trocar o pranto pelo óleo da alegria, pois Seu reino é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14: 17). A alegria é um fruto do Espírito (Gl 5: 22).

Ele vai dar uma veste de louvor, em vez de espírito angustiado – isso quer dizer que a angústia do peito pode ser removida quando colocamos nossa fé em ação, clamamos a Deus e vemos Sua resposta numa causa que parecia impossível, e isso nos leva a agradecer-Lhe, pois recebemos uma solução para o nosso problema. Por isso o apóstolo Pedro disse: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 5: 6-7).

Em Fp 4: 6-7, Paulo escreveu: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. Nosso Deus é um Deus de justiça, um Deus do hoje, do presente, que providencia o que necessitamos para cada dia da nossa vida, em todas as áreas dela. O que precisamos desenvolver para ver a nossa bênção materializada é justamente a fé; a fé aliada à perseverança, pois o reino de Deus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mt 11: 12). Muitas vezes, ter fé em alguma coisa que nunca tivemos ou nunca vimos é um grande esforço, mas a bíblia também diz que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11: 6: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”).

Resumindo: Deus não mudou. Ele não mudou Suas leis escritas no AT só porque Jesus veio. Jesus veio e cumpriu a lei, mas não a aboliu. Nele se cumpriram as profecias sobre a redenção de Israel através do Messias. Ele abriu para nós a realidade espiritual, ou seja, nos deu a consciência da necessidade de salvação da nossa alma e nos fez entender quem é o nosso verdadeiro inimigo. Mas não deixou de agir na terra, na matéria. A palavra de Deus continua viva. Jesus é Deus, e, portanto, é capaz de realizar todo tipo de milagre em todas as áreas da nossa vida. Se você tem dificuldade de entender isso, creia apenas. Nada vai ficar postergado para a nova Jerusalém. A justiça que muitas vezes nós gostaríamos de ver na terra vai ser feita, sim, por Ele. Lá na Nova Jerusalém o cumprimento de toda a palavra de Deus será pleno, mas Sua justiça, Seus milagres, Sua recompensa para nós é feita aqui na terra também. Em outras palavras: aqui nós conquistamos as pérolas. Lá, nós vamos receber a coroa completa e adornada com as pérolas que conquistamos aqui, em vida. Por isso, passamos as provas de aperfeiçoamento.

‘A fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória’ – o Senhor mostra o motivo da transformação mencionada acima: Ele coroa os enlutados, unge-os com óleo de alegria e põe sobre eles vestes de louvor para que eles sejam chamados ‘carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a Sua glória’. O carvalho é uma árvore do gênero Quercus, que tem vinte e quatro espécies na Palestina; por isso fica difícil determinar qual a espécie a que pertencem a palavras hebraicas como: ‘allâ, ’allôn (ou ’allown) e ’elâ. Esta última parece ser a mais usada na bíblia (’elâ).

carvalho era a árvore favorita sob cujas sombras os israelitas se assentavam (1 Rs 13: 14) ou sepultavam seus mortos (Gn 35: 8 e 1 Cr 10: 12). Sua madeira, embora dura, não era empregada em construção. Era usada na fabricação de remos (Ez 27: 6) e de imagens de escultura (Is 44: 14-15). Basã era região repleta de carvalhos (Is 2: 13; Ez 27: 6; Zc 11: 2). O amorreu era forte como os carvalhos (Am 2: 9). Algumas espécies são perenemente verdes, mas a maioria muda de folhas anualmente (Is 6: 13). É uma árvore vigorosa, de madeira dura, que vive muitos séculos. Portanto, simboliza poder, força, longevidade, estabilidade e determinação; e isso é o que o Senhor espera daqueles a quem Ele resgata e abençoa: que sejam firmes na prática da justiça; permaneçam enraizados no reino de Deus para mostrar a Sua presença diante dos ímpios e irreverentes e diante dos inconstantes, que por qualquer coisa voltam ao pecado porque não querem pagar o preço da santidade e da realização dos seus sonhos.

A bênção futura de Israel – v. 4-9.
• Is 61: 4-9: “Edificarão os lugares antigamente assolados, restaurarão os de antes destruídos e renovarão as cidades arruinadas, destruídas de geração em geração. Estranhos se apresentarão e apascentarão os vossos rebanhos; estrangeiros serão os vossos lavradores e os vossos vinhateiros. Mas vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das nações e na sua glória vos gloriareis [NVI: ‘e do que era o orgulho delas vocês se orgulharão’]. Em lugar da vossa vergonha, tereis dupla honra; em lugar da afronta, exultareis na vossa herança [NVI: ‘Em lugar da vergonha que sofreu, o meu povo receberá porção dupla, e ao invés da humilhação, ele se regozijará em sua herança’]; por isso, na vossa terra possuireis o dobro e tereis perpétua alegria. Porque eu, o Senhor, amo o juízo e odeio a iniqüidade do roubo; dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e com eles farei aliança eterna. A sua posteridade será conhecida entre as nações, os seus descendentes, no meio dos povos; todos quantos os virem os reconhecerão como família bendita do Senhor [NVI: ‘são um povo abençoado pelo Senhor’]”.

Aqui são feitas promessas aos judeus devolvidos do cativeiro e que se estabeleceram novamente em sua própria terra, mas veremos um pouco mais adiante que, muito provavelmente, essa profecia se estendeu aos tempos do evangelho, quando a nova dispensação passou a ser espiritual. Talvez, possa ser aplicada aos crentes da nossa geração.

É prometido que as suas casas serão reconstruídas, suas cidades serão levantadas das ruínas em que se encontram há muito tempo, e eles reconstruirão seus lares e suas terras novamente. Eles vieram do exílio e reconstruíram.

‘Estranhos se apresentarão e apascentarão os vossos rebanhos; estrangeiros serão os vossos lavradores e os vossos vinhateiros’ – isso aconteceu, em parte, quando retornaram do cativeiro e tiveram ajuda de alguns povos por ordem de Ciro (Ed 1: 4; 6) e, provavelmente dos moradores da Mesopotâmia e da Assíria que haviam sido enviados para a Palestina para colaborar com os judeus, ou povos de outras terras que se estabeleceram em Israel depois do seu exílio, e agora ajudariam voluntariamente os judeus com seus rebanhos e suas vinhas. Os judeus, sem dúvida, se sentiram privilegiados após seu retorno, pois agora sabiam valorizar a liberdade e as suas propriedades, além de valorizar sua crença no Deus vivo, não mais nos ídolos. Embora tivessem reconstruído suas casas e o templo, essas construções foram bastante inferiores às que possuíam antes de serem cativos, entretanto, era motivo de júbilo para quem chegou a perder tudo. Eles tinham novamente sua porção de terra, a terra de Israel, e não eram mais estrangeiros nela como foram na Babilônia.

A promessa de Isaías para eles era de um estado de alegria duradoura, muito mais duradoura do que o cativeiro na Babilônia. Porém, essa alegria não durou tanto tempo quanto se pensava (pelo menos na matéria) pois eles tiveram paz durante o domínio do império persa, mas logo depois, com o domínio grego de Alexandre o Grande e seus generais, Israel trocou várias vezes de mãos: primeiro, sob domínio ptolomaico (os Egípcios), depois sob domínio selêucida (os Sírios), revolução dos Macabeus numa transição para o período Hasmoneano e que, de forma alguma trouxe alegria ou paz para a nação; apenas guerras, revoluções, mortes e mais destruição e divisões internas no âmbito civil e religioso até o domínio romano e o nascimento de Cristo. Por isso, eu disse anteriormente que esta profecia foi mais direcionada aos crentes, mais especificamente, à parte espiritual da igreja, pois também a parte material, física, dos novos convertidos foi bastante assolada, perseguida, e sua alegria, de pouca duração. O que tem durado até hoje é a esperança de a salvação ser completada na segunda vinda de Cristo, bem como a realização plena da Sua justiça. Não estou dizendo que o profeta ou que Deus estava mentindo; somente que esta parte da profecia de Isaías passa a ter uma natureza bastante diferente das profecias iniciais, já mostrando que, a partir do retorno dos judeus do exílio Deus estava e estaria tratando com a humanidade em outros termos.

‘Mas vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das nações e na sua glória vos gloriareis [NVI: ‘e do que era o orgulho delas vocês se orgulharão’]’ – quando Deus libertou Israel do Egito, Ele os separou para Ele (“Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” – Lv 20: 26) e os chamou de um reino de sacerdotes (Ex 19: 6: “vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel”), significando, num sentido amplo, que através deles Suas leis seriam conhecidas entre as nações e eles trariam outros povos para Deus, como um sacerdote faz a ligação entre Deus e o povo e vice-versa. Para os crentes do NT essa lei continua a ser válida levando em conta que a Igreja de Cristo é o Israel espiritual de Deus: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2: 9).

Isso quer dizer que após o exílio, a posição dos judeus como mediadores entre Deus e os gentios voltaria a ser como foi planejada no início por Ele.

‘Em lugar da vossa vergonha, tereis dupla honra; em lugar da afronta, exultareis na vossa herança [NVI: ‘Em lugar da vergonha que sofreu, o meu povo receberá porção dupla, e ao invés da humilhação, ele se regozijará em sua herança’]; por isso, na vossa terra possuireis o dobro e tereis perpétua alegria’ – no lugar da vergonha que eles haviam passado durante o cativeiro (e até antes, por causa dos julgamentos de Deus contra a idolatria do Seu povo), eles teriam honra dobrada, assim como o regozijo de voltar a possuir a terra de Canaã. Aqui volta o comentário acima sobre a ‘alegria perpétua’, que passou a ser algo espiritual para os que entenderam o projeto de Deus através de Jesus. Apesar das circunstâncias externas, os crentes saberiam o que é a alegria da salvação e da companhia eterna do Espírito Santo. O que havia sido roubado deles seria restituído em dobro pelo Senhor, a mesma palavra (em Português) usada em Is 40: 2: “Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniqüidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados”.

Em Is 40: 2 a palavra ‘dobro’ em hebraico é: kephel (Strong #3718), que significa: uma duplicata, dobro.
Em Is 61: 7 a palavra hebraica é: mishneh (Strong #4932), que significa, mais exatamente: uma repetição, ou seja, uma duplicata (cópia de um documento) ou uma dupla porção (em quantidade); por implicação, uma posição secundária, o próximo, segundo (ordem), o dobro, duas vezes mais.

Embora se tratando da mesma coisa, nós podemos até tentar explicar a diferença de palavras da seguinte forma: em Is 40: 2, o dobro (ou a duplicata) seria a quantidade de punição de Deus em medida dobrada à quantidade dos pecados deles.

E em Is 61: 7, o dobro corresponderia uma repetição, uma cópia do que tinham com Deus no início, antes de começarem a pecar e idolatrar imagens (como as tábuas da Lei foram escritas pela segunda vez para refazer o pacto). Seria uma aliança que estava sendo refeita entre eles e Deus; ou, então, uma porção dobrada (como a unção de Eliseu em relação a Elias) como uma maneira de compensar uma perda, uma necessidade ou um desejo de algo que foi conquistado com muita dedicação e esforço.

Na lei de Moisés está escrito:
Êx 22: 1; 4; 9: “Se alguém furtar boi ou ovelha e o abater ou vender, por um boi pagará cinco bois, e quatro ovelhas por uma ovelha… Se aquilo que roubou for achado vivo em seu poder, seja boi, jumento ou ovelha, pagará o dobro… Em todo negócio frauduloso, seja a respeito de boi, ou de jumento, ou de ovelhas, ou de roupas, ou de qualquer coisa perdida, de que uma das partes diz: Esta é a coisa, a causa de ambas as partes se levará perante os juízes; aquele a quem os juízes condenarem pagará o dobro ao seu próximo”.

Dessa forma, isso seria uma dupla recompensa para eles por todo roubo e vexame que sofreram nas mãos dos babilônios, como uma causa na justiça, onde se paga a indenização pelos danos morais sofridos pela vítima, ou seja, o litigante que primeiro deu entrada no pedido legal. A dupla riqueza que eles receberiam seria não apenas a posição de filhos de Deus, mas a bênção do primogênito (‘Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito’ – Êx 4: 22), que recebia a porção dobrada da herança do pai, em relação aos outros filhos.

‘Porque eu, o Senhor, amo o juízo e odeio a iniqüidade do roubo; dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e com eles farei aliança eterna. A sua posteridade será conhecida entre as nações (no hebraico, gowy = gentios; nações, povos), os seus descendentes, no meio dos povos; todos quantos os virem os reconhecerão como família bendita do Senhor [NVI: ‘são um povo abençoado pelo Senhor’]’ – eles seriam reconhecidos pelos gentios como o povo escolhido de Deus.

Sião agradece a Deus pelo Seu retorno – v. 10-11.
• Is 61: 10-11: “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante [NVI: ‘qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote’], como noiva que se enfeita com as suas jóias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia [NVI: ‘Porque, assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente’], assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações”.

Isaías fala aqui em nome da igreja judaica daquela época pós-exílio, abençoada pelo Senhor e consciente da salvação e da separação para Ele; para nós, é a igreja de Cristo, coberta pelo Seu sangue (salvação) e justificada do seu pecado (manto de justiça), da mesma forma que o noivo (Jesus) adorna sua cabeça e a noiva (a igreja) que se enfeita com suas jóias. Assim como o privilégio do sacerdócio é restaurado para a igreja, ao mesmo tempo o profeta compara a alegria da volta do Senhor a Sião com uma festa de casamento, onde Ele é o sumo sacerdote (o noivo com turbante), e a igreja (judaica) é a noiva.

O verbo ‘adornar’, em relação ao noivo, em hebraico é kahan (Strong #3547), que significa mediar em serviços religiosos; oficiar como sacerdote; figurativamente, colocar em regalia; enfeitar, embelezar, cobrir, ser sacerdote, fazer o ofício de um sacerdote, executar o ofício de um sacerdote, ministrar no ofício de um sacerdote. Assim, o turbante sacerdotal fala a favor da posição de sacerdócio da igreja de Cristo, levando Sua palavra viva aos quatro cantos da terra, como também é visto no próximo versículo: “Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia [NVI: ‘Porque, assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente’], assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações”. Isso é falado em relação aos tempos messiânicos. Os que forem salvos (resgatados pela Sua justiça) louvarão o Seu nome.

Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

• Principal fonte de pesquisa: Douglas, J.D., O novo dicionário da bíblia, 2ª ed. 1995, Ed. Vida Nova.
• Fonte de pesquisa para algumas imagens: wikipedia.org e crystalinks.com

Sugestão para download:

tabela de profetas AT

Tabela dos profetas (PDF)

Table about the prophets (PDF)

 

livro evangélico: Profeta, o mensageiro de Deus

Profeta, o mensageiro de Deus

Prophet, the messenger of God

 

Este texto se encontra no 3º volume do livro:

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